Exmo. Senhor Presidente,
Era minha intenção enviar-lhe esta missiva após o jogo em Moreira de Cónegos...
- Oh amigo, desculpe lá, isto é sobre o quê?
- É eu a dizer-lhe coisas, senhor Presidente.
- Poooooiiiisss, não vai dar. Não leve a mal, mas compreenderá que se me ponho a ouvir cada um dos sócios, é uma desgraça, não faço mais nada. Porque não diz coisas ao senhor Provedor do Sócio?
- Bem, acho que não é bem o âmbito... Mas percebo. Tentarei, nesse caso. Muito obrigado.
...
Exmo. Senhor Provedor do Sócio,
Era minha intenção enviar esta missiva ao Exmo. Senhor Presidente do Futebol Clube do Porto após o jogo em Moreira...
- Oh sócio, desculpe lá, isto é sobre o quê?
- É eu a dizer-lhe coisas, senhor Provedor, para depois me fazer o obséquio de transmitir ao senhor Presidente.
- Poooooiiiisss, não vai dar. Não leve a mal, mas compreenderá que se me ponho a fazer de moço de recados, é uma desgraça, não faço mais nada. Para além de que não me parece que as coisas que vai dizer sejam bem do meu âmbito. Porque não vai a uma bilheteira?
- Hã?
- Então, já não dá o tempo por perdido e compra uma entradinha, paga uma quota adiantada...
- Bem, acho que não tem nada a ver... Mas estou a perceber. Tentarei, nesse caso. Muito obrigado.
...
Exmo. Senhor Funcionário da Bilheteira do Cogumelo,
Era minha intenção enviar esta missiva ao Exmo. Senhor Presidente do Futebol Clube do Porto, por intermédio do Exmo. Senhor Provedor do Sócio, após o jogo em Moreira de Cónegos.
Decidi antecipar, porque ontem, no programa Universo Porto - Da Bancada, o meu sentido de urgência foi espicaçado. O Exmo. Senhor Diretor de Comunicação afirmou que, em comparação com este Campeonato da Liga NOS, o "colinho" de há dois anos foi uma "brincadeira de crianças".
Uma vez cumprido o aparente dever de parabenizar o adversário, creio que se inicia a vaga comunicacional tendente a explicar, como se fosse possível, a continuidade no cargo do atual treinador da nossa equipa principal de futebol. Na verdade, ele ganhou o Campeonato da Liga NOS. Os maus, a quem deu os parabéns, é que o roubaram.
Concluí pois que seria urgente fazer chegar estas linhas, antes de estar definitivamente - e espero que ainda seja tempo - tomada a decisão de me roubar qualquer esperança no Futuro próximo do nosso Clube. Se dramatizo, é apenas porque este é o pior momento que vivo enquanto adepto do FCP. O fundo não foi o final da época passada, o fundo é agora. Tem que ser agora! Elenco seguidamente as razões que me levam a esta conclusão:
a) O falhanço Lopetegui
Depois da transição mal gerida da época dourada Villas Boas, o Exmo. Senhor Presidente, sem o dizer, apresentou o que me pareceu um plano a médio prazo. Contratou por três anos um treinador com experiência em camadas jovens e entregou-lhe um poder nunca visto para um técnico do FCP. Para mim, ficou clara a aposta e que este seria o homem do Presidente, que contaria com o seu total e absoluto respaldo, em qualquer circunstância. Porque era isso que faria sentido, dada a opção.
Pelo contrário, a um plano que parecia caminhar, como prova o alinhamento do estilo de jogo com a equipa B, por exemplo, a sua direção ofereceu nada. Deixou um treinador ser cozinhado em lume brando pelos media e pelos próprios adeptos. Abandonou a equipa à sorte de um Campeonato com campos inclinados e, por consequência, perdeu.
Pensei que se havia arrependido e mudara de ideias em relação ao treinador, mas estava enganado. Julen Lopetegui continuou e nada mudou. Nem em termos de apoio, nem em termos de comunicação, como se esperássemos, todos, pacientemente que a doença detetada se encarregasse de matar o fulano. Sem nunca o termos visto, a si, empenhado em encontrar uma cura.
E disse-nos que batêramos no fundo. Que desse momento em diante, seria sempre a subir.
b) O falhanço NES
O facto é que conseguimos verificar muitas mudanças nesta época de 2016/17. A estrutura mudou, a comunicação mudou, temos um FCP mais combativo e menos "inglês". Antero saiu, Luís Gonçalves chegou, Francisco Marques fez o seu caminho e assumiu um novo protagonismo.
Tarde! Sempre fora de horas. O responsável pelo futebol chega com o plantel montado e o técnico escolhido. O que significa que não foi planeado, limitou-se a acontecer e o senhor Presidente reagiu, em vez de agir.
Por outro lado, temos a comunicação que a maioria desejou. E nada ficou por denunciar, por evidenciar. Curiosamente, fizemo-lo exatamente quando entregámos a liderança das nossas tropas, no campo, a um General polido, politicamente correto e incapaz de alinhar no discurso guerreiro.
Tudo o que podemos concluir, senhor Presidente, é que andámos aos tombos, sem nunca conseguirmos encontrar o fio à meada. A fazer as coisas de forma desgarrada, a escolher pessoas sem olhar para contextos. Só podia correr mal.
c) O (des)Norte
Em consequência desta forma de caminhar, qual barata tonta, conseguimos, numa só época, destruir equipas em vários escalões. Dando de barato que a A é uma questão pessoal - eu não gosto de NES! - veja bem o que fizemos a outras:
Luís Castro ia sair para a China. Luís Castro não saiu para a China.
O ano de transição da equipa B, Campeã Nacional, deveria ser gasto na construção de uma equipa nova. Que mais esperar de gente que levava dois ou três anos neste patamar e que tinha ganho o titulo? Era hora de saltarem para outro nível, obviamente. No fim do dia, o que verificámos foi que mantivemos os "velhos". Não podia correr bem. E a culpa não é dos jogadores.
Luís Castro saiu para o Rio Ave. Entra José Tavares. A caminhada trágica dos B agrava-se.
Sobe-se, em desespero, António Folha, Bicampeão Nacional de Juniores. No processo, destruímos a equipa júnior. Que andou a penar a fase final inteira.
Não contesto sequer as escolhas. Eu teria feito diferente, mas eu sou ninguém. O que não posso relevar, é o evidente desnorte. Nenhum plano, nenhuma estratégia, tudo porque sim ou porque não, as mais das vezes a parecer só por acaso. No processo, duas equipas à deriva. Uma ainda foi a tempo de ser remendada e - força miúdos! - ainda nos vai dar hoje o ÚNICO título que comemoraremos.
Raios, se não me arrependo do que gozei com os meus amigos lampiões, de cada vez que ganharam aquele torneio de pré-época que organizavam no Luxemburgo.
Deixarei para ocasião mais oportuna a questão Rui Pedro. Porque acho que é só minha. Mas aproveito para lhe perguntar se ainda veremos o nosso promissor avançado a fazer uma perninha no Andebol. O play off está tremido...
d) Santas Alianças
Sabe, senhor Presidente, no dia em que estiver de acordo com MST acerca da bola, é porque o FCP não está nada bem. Esse dia é hoje.
Deixe-me começar por dizer que não tenho nada a obstar a conversas com qualquer clube. E acrescentar que acho muito bem que procuremos consensos, na defesa de interesses que sejam comuns. Posto isto, é deplorável o conteúdo do comunicado que anuncia o reatamento de relações com o Sporting. Não, senhor Presidente, não me sinto capaz de lhes chamar qualquer outra coisa. Nem Sportém, nem Calimeros, nem o que seja. Sporting Clube de Portugal, por vossa vontade.
Está tudo mal, tudo! Do video-árbitro aos Campeonatos de Portugal, da reunião "secreta" à assinatura do Diretor de Comunicação. Nada faz sentido, nada é parte de uma estratégia, tudo é casuístico. Porque sim, por acaso.
O senhor Presidente absteve-se - e bem, quanto a mim! - de comentar o "Caso Vouchers", para agora encontrarmos múltiplos, e bem menores, pontos de vista comuns? Eu gozo indecentemente com o senhor Bruno de Carvalho - sim, Presidente, agora não troco nomes a mais ninguém - a propósito de querer ser tetra numa época só, para agora estarmos disponíveis para fazer disso um caso tão importante que exige estudos de entidades independentes? Estamos, chegaria o dia, de acordo com o senhor jornalista - já disse que não troco - Rui Santos quanto ao papel salvador do video-árbitro? E, por favor senhor Presidente, não informe o nosso Benni McCarthy de que pugnaremos pelo regresso dos "Sumaríssimos". Vamos tentar adivinhar a quem serão instaurados os primeiros, provavelmente únicos, processos sumaríssimos?
Cheira tudo a tanto amadorismo, senhor Presidente, mas tanto, que não posso acreditar que tenha partido de si. O que é muito grave, porque foi em si que votei. Pelo que é em si que confio para este tipo de assunto tão relevante. A assinatura do nosso Diretor de Comunicação obriga a SAD, mas a mim não me diz nada.
Sendo que esta é a única espécie de aliança a que estamos presos, certo senhor Presidente? É que me custa ler que o senhor abandona - e tão contente fiquei! - a tribuna em Braga, para assistir ao resto do jogo ao lado da sua SAD. Mas aquilo não era a SAD. Eu votei em si, o que significa que lhe confio as escolhas. Mas escolha! Como se dizia na minha rua de infância: Quem está fora, não racha lenha. Quem não tem cargo, não tem voz. NÃO TEM, pois não, senhor Presidente?
e) As coisas bem feitas estão podres?
Como lhe disse lá muito acima, houve coisas bem feitas. A comunicação está melhor, a estrutura do futebol parece encaixar, a equipa esteve comprometida com o objetivo. No entanto, este penoso final de época está a deixar-me preocupado. Como se as maçãs fossem tão vermelhas e apetitosas, que parece que alguém lhes vai injetar bicho, só para ser desmancha prazeres.
A semana passada, matámos a Liga Salazar, legitimando o Campeão. Antes, enterráramos a "Cartilha", permitindo que o Francisco fosse apanhado a encontrar-se às escondidas, num hotel, com o Nuno. Well, que cavalos de batalha nos restaram? Vamos pensar no futuro que é melhor, certo?
Acontece que também isso é preocupante, a partir de ontem. O motivo de antecipar o envio desta minha cartinha não é despiciendo. Juro-lhe que toda a narrativa da "brincadeira de crianças" me soa a "nananananana, brilhante o NES! Bri-lhan-te! Pena a roubalheira. Como nós e os nossos aliados não vamos deixar que se repita, o próximo está no papo. Do NES!" Como se não bastasse a censura dentro de nossa casa e os Parabéns a você do nosso treinador, que limparam a Liga Salazar; arranjámos maneira de legitimar - na mesma semana! - a Liga do Colinho. Afinal, foi uma brincadeira de crianças, não é para levar a sério.
Não perceba mal, eu estarei na bancada. Estarei sempre, seja qual for o treinador. Entenda que isso não me torna um abrunho sem cérebro. É paixão e é para a vida. Pelo FCP, senhor Presidente. Exclusivamente pelo FCP.
Em conclusão, escrevo-lhe para lhe dizer que este é que é o fundo. Nunca antes vislumbrara tantos sinais de desorientação, tão recorrentes e tão encadeados. Urge pois sair daqui, depressa, se possível, mas sustentadamente. Faltam três anos para que termine o seu mandato, é o tempo que resta para nos devolver à glória.
Defendo que os mandatos se cumprem até ao fim. Acredito que o senhor Presidente possa corrigir o que está - profundamente! - errado. Pronunciar-me-ei acerca das pessoas que decidir escolher e manter, porque é um direito que jamais alienarei. Da mesma forma, entendo que é seu direito inalienável traçar o rumo e decidir com quem percorrer o caminho.
É isso mesmo que lhe exijo: Um rumo! Esse que hoje não temos.
E isso, senhor Presidente, será revolucionário!
Assina este, com estima e admiração.