quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O senhor Silva duvida de Deus

Atravesso uma fase de profunda dúvida teológica. A Fé esvai-se-me a cada segundo. O que ainda não é lá muito grave, porque isto começou há uma meia hora. O facto permanece: começo a desconfiar que Deus não existe. 

Ou então não é Senhor assim tãããoo absoluto do Universo and beyond. Vai-se a ver, tem que submeter as decisões a um Parlamento de deputados angélicos, daqueles que recebem subsídios de deslocação porque mantêm residência fiscal no Quinto dos Infernos, embora morem ali mesmo ao virar da esquina. E raramente aparecem para as discussões, menos se for para aprovar novos subsídios para a manutenção das asas. A brincar, a brincar, só em penas, é para cima de um balúrdio. Já para não falar das asas haute couture, que se a pessoa não se pode apresentar mal, o anjo ainda menos. Qual o crente que ia confiar num anjo mal enjorcado, com um manto da Primark e asinhas da Megaloja Família Feliz?

A culpa deste meu estado de descrença é do comboio. Eu uso basto a ferrovia e dado o espetacular funcionamento do Wi-Fi - é gratuito, só não funciona. - e o facto de a minha viagem média demorar umas horas, passo demasiado tempo a enervar-me com a existência...dos outros passageiros. Esta manhã concluí que é muito provável que Deus não exista ou que esteja atafulhado de burocracia e não possa cuidar das coisas verdadeiramente importantes.

- Como a Paz no Mundo. Não é, minha rabanadinha? - Bebe um golo de café, sem tirar os olhos claros do tasqueiro.

- Hã? 

- Nada, nadinha, foi o que eu disse. Panasca. - Pelo meio do resto do cimbalino.

- Hã?

- Na Tasca. Não disse nadinha na Tasca. Não lavástujóbidos de manhã?

- Distraído cá com as minhas coisas. É sessenta cêntimos. - E deixa-me é ir dar a volta às bifanas, antes que isto piore.

Se Deus existisse, havia pessoas que não tinham telefone, nem computadores, nem merda nenhuma que pudesse servir propósitos lúdicos enquanto em trânsito. E nem dados móveis. 

Podiam ter pernil de porco à vontade, mesmo que fossem Venezuelanos. Agora, dispositivos que lhes permitissem falar aos berros com outros fulanos e fulanas enquanto a pessoa precisa de dormir, porque teve que alçar os glúteos da cama - opá, adoro esse rabo miúda. Não sei se já te tinha dito. - às cinquimeia da manhã, isso não tinham eles! 

Sempre que alguém está prestes a adormecer num transporte público e outro humanóide grita: Tô? Tô? Isto a rede é fraca, fala maijalto. Já cá Tô, pareçunvião, carago. Poijé, poijé. Já parou em Coimbra, agora é sempasgaçar até Lisboa. É dos novos. Se fosse o a seguir, parava em todas. Tô? Tô? Olha, numtoiço, vou desligar. Até porque me dói a garganta de estar aqui a falar aos berros.

Vejamos, pessoas, não! 
                                      ( suspiro )
                                                     A minha mãezinha não tinha telemóvel. Por isso podia achar que se eu estivesse em Londres, ela devia falar mais alto ao telefone do que se eu estivesse na rua de baixo. Isso quer dizer que se punha aos gritos, mas era dentro da sua própria casa. Não era diretamente nos tímpanos de outros cinquenta pobres desgraçados, a maioria dos quais gostava mesmo era de dormir um pedacinho. 

Ainda que fossem horas de gente decente andar fora dos lençóis, porque raio quereria eu saber da vida dojôtros? Reparem, provoca vergonha alheia nas pessoas normais, quando vocês se põem a conversar em pleno metropolitano: Alô, atão, tátudo? O filhadaputa do Martins tá fodido comigo. Hã? Não quero saber disso panada, tá fodido, caralho.

E é assim que aqui vou, os olhos raiados de vermelho sono e vermelho raiva, prestes a completar duas horas e trinta minutos de suplício. Mas - oh alegria, salve maravilha! - repimpado no meu assento, partilhando a playlist de um energúmeno, uns dez lugares à frente. Depois de ter iniciado a viagem a saber de onde vinha, para onde ia e o estranho traçado que, pelos vistos, a Rede Nacional Ferroviária tem dentro da sua cabeçorra: Tô? Tô? Sei lá ondebai. ‘Inda deve parar em Leiria. Ou no Cartaxo. O Forever Young pode soar mal, ai pode, pode.

Não resisti e levantei-me. Fui ver. A cabeçorra confirmou-se. Mas não era playlist nenhuma. Era vídeos do Youtube. Ah modernaço!

Na plena posse das suas anunciadas - ou prometidas? - capacidades, Deus restringiria de modo menos democrático o acesso a dados móveis. Dado o regular desfuncionamento da rede gratuita da CP, é forçosamente pelos seus próprios meios que os estúpidos acedem à internet em plena carruagem. Gastam a guita toda nisto e ficam sem cheta para comprar aquelas cenas altamente avançadas, chamadas auscultadores? Fones. Assim já percebem? Ou acham mesmo que é desnecessário?

Perdida a humildade, dados os meus pensamentos ímpios e segregantes, deixo-me embalar no último fio da minha insanidade. Imagino-me numa gabardina estranha. Imagino-o a dizer-me “lEmbe-mos”. Já quase a fechar os olhos, oiço o disparo. Descanso em p...
A voz anuncia a paragem terminal. Foda-se!

...

- Oh Pedro, kestamerda? Querem um subsídio de risco por andarem descalços? A sério? - Incrédulo perante o requerimento.

- Pois, Senhor. Diz que se constipam com mais facilidade...

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

The SEDCAS experiment I: A marcha de Um

NOTA PRÉVIA: The Sedcas experiment será(?) um conjunto de textos de dimensão indeterminada, inspirados por, feitos a partir de e em torno de imagens do grande SEDCAS. Este formato blogueiro e a pouca destreza do dono do tasco ao nível da cibernética, não favorecem as verdadeiras estrelas deste e dos próximos(?) posts desta série: as fotografias. A solução é mesmo saltarem para o site e deliciarem-se. E contratarem o moço, se for caso disso. Sim, ele paga pela publicidade.

Saibam que este texto é longo, saibam que não é sobre bola, saibam que não tem graça nenhuma, nem fala particularmente mal de alguém. Não sei como ficará formatado nos vossos telefones, mas eu, se fosse a vocês, andava já para baixo até à imagem e lixava-me para o resto, embora fosse suposto que ela vos viesse a surpreender de alguma forma. Dentro da minha cabeça passam-se coisas. Mas lá está, fui eu que escrevi, portanto já sei o fim. Aliás, não sei. Nenhum de nós sabe...


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- Um caminha. Pouco mais faz. Se puder imaginar uma linha reta, é provável que Um a prossiga desde sempre. O mesmo acontece se preferir uma série de curvas e contracurvas. O meu caro amigo só muito raramente deixa a imaginação entregue à simplicidade. – Puxa uma longa fumaça do seu cigarro.

- Ora, seria um paradoxo, isso da imaginação simples. Que não da simples imaginação, já se vê. Antevejo um "mas", acertei?

- Pois claro. Digamos que, se lhe quisermos percecionar uma direção, o que está longe de ser líquido, Um marcha. Desfila, na minha mais sincera opinião.

- Ah, mas isso parece soberbo. – Aproxima-se, interessado, inclinando-se para a frente na poltrona. – Quando o diz assim, dá-lhe uma certa graça, não acha? Desfila. – Repete de olhos fechados, a ver a palavra a formar-se no lago da sua mente. Uma mulher a emergir da água, água ela mesma.

- Bom, detesto conspurcar a imagem, mas não é bem um desfile gracioso, embora tenha os seus momentos. É capaz de ser mais Ovar do que Veneza, percebe?

- Mais divertido do que bonito?

- Mais Carnaval do que Arte. Um caminha, marcha, anda. Mas a coreografia é caótica e nem vale a pena começarmos a discutir a cenografia.

- Assim tão má? – Franze um sobrolho apenas. Uma qualidade que Austin muito inveja.

- Oh, tem dias. – Reflete por um segundo. – Pois, dias. Não vá o meu caro julgar que se trata de um curto trajeto de horas. Ou uma corrida de minutos. Por momentos caminha, noutros marcha, por vezes desfila. Tem alturas que corre, alturas que dança. O cenário acompanha, isso é certo. O que não quer dizer que seja continuamente bonito. Aliás, visto friamente, é quase sempre basto desengraçado.

- Muito previsível. – Volta a recostar-se no seu assento almofadado, estofado com fino tecido, comprado a retalho numa feira de segunda mão, cruzando as mãos, as suas, que são primeiras e únicas, sobre a proeminente pança.

- Agora utilizemos a tecnologia ao dispor e aproximemos a imagem. Repara na multitude de grilhetas? E chamo a sua atenção para esta espécie de névoa que sucede a Um. Aqui, mesmo atrás. – Aponta com uma luzinha vermelha, fazendo círculos na tela.

- Sim, sim, que curioso. Tenho a certeza que as suas engenhocas modernas conseguem chegar-se ainda mais.

- Não duvide por um instante. – Com ar de menino a mostrar um brinquedo novo, certo do espanto que irá causar, senão inveja. – Esteja preparado.

Não discorramos sobre quanto muda no Universo na fração indetetável, mas muito real, de tempo que vai entre carregar num botãozinho e isso produzir algum efeito. A nossa missão aqui, se alguma, não é essa. Apesar de dar vontade. Resistamos ao impulso e concentremo-nos na tela. Como faz agora Mr. Deluxe, que se levantou de um salto, contrariando a gravidade agravada pelo seu abdómen distendido. E fica assim, as banhas ainda a abanar, de boca aberta, por um instante. Até conseguir pronunciar:

- Mas…mas…Austin! É toda uma parada! – O outro cruza as mãos atrás das costas e deixa-se estar, satisfeito, a balançar sobre os seus próprios pés.


À frente, Um. Aos seus tornozelos prende-se um número indeterminado, e indeterminável, de correntes. Embora finas como capilares, todas, algumas deixam a certeza da sua indestrutibilidade. Outras nem tanto, apesar de demonstrarem o firme propósito de se manterem alapadas à perna de Um.

Pela frente, nada. Só lá muito longe uma ideia ténue de propósito, muito para lá do vácuo próximo. As bermas do suposto caminho realizam-se a cada instante, a cada passo. Nelas se erigem as bancadas apinhadas. O movimento aqui é frenético: as raças misturadas, os géneros múltiplos, os transeuntes - de copo na mão e frituras em punho - visitam as bancas de merchandising e confraternizam alegremente. Quando não estão empenhados em aplaudir ou vaiar o desfile lá de baixo, está claro.

Porque escolhem uma das posições, não se sabe. Nem importa. Decidem na hora, pelo que mais lhes apetece, num momento de rara pureza da espécie. Como quem se cruza com alguém numa carruagem de metropolitano e pensa: partia-te as trombas todas, só não faço ideia porquê.

Logo atrás de Um, a ala dos Eternos. Entenda-se a Eternidade como o que de facto é: o período durante o qual existe. No caso vertente, Um. Ou os Eternos. De todas, é a ala mais pequena, mas o batalhão mais feroz. Armados até aos dentes, prontos – julga-se – para dar a vida e a camisa, são aqueles de quem Um se despede todas as noites. Não obrigatoriamente por palavra, gesto ou presença. Mas sempre. Mesmo que num fugaz lampejo da mente, instantes antes de se deixar a pessoa de lembrar do que a mente continuará a fazer, entregue a si própria por umas horas. Apenas.

Estes são os que podem determinar de forma mais intensa o ritmo da marcha. Um para e puxa, se Algum se atrasa. Algum puxa e para Um, se tem que descansar. De cada, desprende-se toda uma nova parada que interage com a de Um, num caos de interligações venosas e descargas elétricas mais intrincadas do que um cérebro. De macaco.

Os figurinos da Ala dos Eternos são muito diversificados, acompanhando frequentemente o que veste a disposição de Um, assim como, noutro passo a seguir, impõem a Um a cor do seu estado de Alma. O efeito é estupendo para o público: uma paleta de cores e suas emoções, indo do lúgubre ao orgasmo em segundos, pontilhando os mesmos momentos de alegria e dor, luxúria e amor filial e, dada a parada que agora Austin descreve ao seu embevecido amigo, uma dose reforçada de infantilidade. E momentos de pura razão, abotoados até ao pescoço, em colarinhos de folhos e rendas e espartilhos pela cintura. Abaixo, uma boia com a cabeça de um pato e fio dental, as plantas dos pés em areia muito fina. Logo a seguir uma galocha a desbravar um oceano de lama peganhenta, o tronco nu no Verão do alpendre, cigarro ao canto da boca e uma melodia familiar: tananananaaa tana tana tanananaaa sooo, so you think you can tell…

Segue-se o rebanho dos zombies. Sempre de grande impacto para os espetadores, esta ala arrasta-se atrás de Um sem muita conversa audível, para além dos seus típicos grunhidos cinematográficos, quase por obrigação. A verdade é que deve ser muito maçador estarem sempre a emitir aquele som arranhado da garganta. Já para não dizer que dá cabo das cordas vocais à pessoa, mesmo que morta. Mas enfim, cada um será para o que morre e as tradições são um tanto rígidas nesta dimensão. Assim parece.

Para o que importa, lá vão, braços estendidos e vísceras de fora, decompondo-se pelo caminho, mas estranhamente intactos. Como que cristalizados num momento, nem sempre o da Morte, nem sempre eles mesmos. Imagens que Um guarda, pessoas que toma por suas, ainda que o tempo o vá fazendo duvidar de que seriam estas que insiste em carregar. Pode muito bem ter-se esquecido, tê-las construído em peças, como se fossem legos de palavras, gargalhadas, lágrimas, cheiros e tons de voz.

Se todos são de facto cadáveres ou se estão vivos de um ponto de vista biológico, não podemos saber. Em alguns casos, nem Um o saberá. Importa apenas que caiam na categoria dos que morreram para esta parada. Ou mataram o porta-estandarte, uma delas. Por permanecerem de tanta relevância, aqui caminham, poucos metros atrás de Um.

É muito curioso perceber que esta é, com frequência, a zona do descanso. Como se Um se entregasse nos braços dos mortos-vivos: uns mordem-lhe a carótida, outros catam-lhe os longos cabelos que não possui, outros tomam-no no colo, todos o protegem à sua falecida maneira. Não é que não seja um pouco nojento – gore, é como se diz, de forma um pouco eufemística, talvez. Acrescentaria Austin. – mas é aparentemente retemperante, este abandono do concreto. Ora, nem isso podemos dizer, sendo perfeitamente realistas.

O estado não é de transe ou de total vazio da mente – mindfulness, apesar do paradoxo, meu caro Deluxe. – muito pelo contrário. Os mortos mortos e os mortos vivos, todos caminhando sem parança do seu desengonçado jeito, são bestialmente concretos. Existem e conversam com Um, afagam-lhe o antebraço, compreensivos, ou cutucam-lhe o peito com o indicador esquelético, incentivando ou acusando, isso não temos como descobrir. Não a esta segura distância, pelo menos. Também não seria correto afirmar que Um repousa, tal a refrega de valentes mordidelas e alguns encontrões. Diremos, por respeito à verdade, que se encontra. No mais profundo da Morte, qualquer que seja o seu estado, revê os traços de si e refaz o seu caminho. Renova-se. É certo que parece um pouco tolo, ninguém o nega.

Siga a dança para a ala dos Frequentes. Como o nome deixa perceber, são uns que não sendo permanentes estão muito presentes. Manifestam-se em socalcos, uns quantos bastante profundos, traçados na pele de Um. Juntos constituem uma profusão de tempos deveras assinalável. Mistura-se o passado e o futuro, numa orgia de conjugações que constroem grande parte do presente. Antecedem e derivam, inferem e deduzem, estão e já foram. De todas, são a ala mais ativa, a longa distância. Dir-se-ia um formigueiro em plena atividade, só que sem carreiros ordenados nem tarefas explicitas. O trânsito do Cairo, um souk sem turistas, a China se fosse transferida para o Lichtenstein, com todos os seus pacientes chineses.

Eis aqui chegado o primeiro carro alegórico: de baloiços suspensos em altas traves, balançam seminuas mulheres, de generosos peitos e curvas inatacáveis, sorrindo e acenando permanentemente à multidão. Nas laterais, poetas lançam aos pés descalços do povo do peão rascunhos das suas obras inacabadas; intercalados por romancistas muito improváveis que leem, aos gritos, capítulos completos das suas novelas. A um canto, recria-se um openspace, onde anacrónicos mangas de alpaca despacham ofícios relativos ao julgamento de um inseto gigante. Bem no centro da viatura, Kant e Schopenhauer jogam à sueca contra Descartes e Engels, enquanto uma profusão de gregos faz grande alarido, aguardando a sua vez no bota-fora. Entre todos, pelo meio da Vida, crianças em estado adulto correm atrás de uma bola. Às vezes de espelhos. Dos altifalantes, berram i am the law; em ocasiões sussurram, gelando o sangue do mais destemido, you’re a beast, evil one; e é frequente todos pararem quando uma sereia toma o microfone e canta whatever walks in my heart will walk alone. Não se sabe se é figurino ou metade peixe, só que todos os marinheiros caem mortos.

Tossindo o fumo negro do escape do carro à sua frente, vem a ala do Enjoo. É uma imensa massa de indivíduos não anónimos que condicionam, das mais díspares maneiras, o ritmo do desfile. Têm a fabulosa qualidade de liquefazer o asfalto, atrasando a trupe. E de criar com essa pasta ondas que balançam e balançam a mole, vai e vem, sooooobe e deeeesce, de cá para lá e para os lados e vamos de novo, do princípio, sem quase sair do lugar. Daí o nome - concluirá vitorioso Mr. Deluxe, entrelaçando os dedos por altura do seu mítico umbigo.

Sendo grande a anterior, é ainda maior a seguinte. É fácil de concluir à vista desarmada, basta olhar para a mancha de marchantes que enche todo o campo de visão, nos seus trajes multicolores e feitios variados. Soltam foguetes e lançam morteiros, disparam confettis e balas de canhão, festejam e matam. Um não os conseguirá nomear, mesmo que tenha de alguns a vaga impressão de os reconhecer. Talvez do supermercado. Todos se cruzam, por algum motivo, no caminho e lhe atrasam ou adiantam o passo, consoante as necessidades do seu único propósito: caminharem também eles.

Encerra-se agora o cortejo, com grade algazarra em volta do segundo carro alegórico: um enorme, desproporcional, imenso ponto de interrogação sobre rodas. Conduzido por um palhaço de ar um tanto aterrador. Mais Joker do que Batatinha. O sinal de pontuação escorre sangue, suor e lágrimas. O que seria um belo cliché. Nada como fechar a estória com uma frase feita, criando empatia transversal com a audiência. Só que cheira a rosas brancas e flores campestres amarelas e tulipas quase negras. A ovos estrelados e a caril de camarão, em dias marcados. Lá se vai a chave de ouro.

À medida que avança, a um tempo arrastando-se e planando quase diáfano, aumenta a comichão em pontos determinados das costas. As asas distendem-se.


By Sedcas | www.sedcas.pt



- Que desilusão, Austin. Mudam-se uns sinais e algumas referências e podia muito bem ser você a desfilar. Tenho até a impressão de ter adormecido em algumas partes. – Arenga Mr. Deluxe, bebericando de um balão de vinho tinto aquecido.



- Ora, vá-se foder, sim, Deluxe? Mudando isto e aquilo, pode ser Um qualquer.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A Mesa do Canto: 2 Oli or not 2 Oli (com Bala Dragão)


O melhor que a pessoa pode fazer é nada. Pensem nisso. Sempre que nos pomos a fazer coisas, corremos um sério risco de fazer merda, de dizer disparate, de pensar mal, de verbalizar errado. Tirando a queca - âmbito em que cada um deve valer-se a si próprio - o melhor é um indivíduo rodear-se de especialistas e, sempre que tiver uma dúvida, olha para os tipos e pergunta:

- Olha lá pá, tu que sabes/trabalhas/te interessas tanto de/com/por (riscar o que não interessa) ________ (preencher ao gosto do freguês), diz-me cá uma coisinha...

E pronto, fica tudo esclarecido e apontado e explicado e anotado. Com a vantagem adicional de, caso seja uma bela treta, a culpa ser do outro. Lá recorre o espertalhão a uma frase feita:

- Pá, só te vendi o peixe que venderam a mim.

Foi por isso que decidi abrir uma Tasca. Já vos disse em ocasiões anteriores que aqui há sempre alguém que tem a resposta. Ainda por cima, por norma, estão perdidos de bêbados, o que dá um colorido muito próprio à coisa. Sendo que facilita a desculpa perfeita:

- Não me lembro nada disso. Devia estar bêbado.

...

Olha, nem de propósito. Está ali na mesa do canto um gajo que se diverte a compilar números. Ele há tolos para tudo, Deus me valha.

Até dá jeito conhecer esta estirpe de doido varrido, porque já se evita de andar a dizer balelas por achómetro. Vai-se e arranjam-se uns números que sustentem o disparate que se arrotou. Caso não se encontrem, pois ignoram-se com muita força as tais das estatísticas, camufladas no eterno:

- Oh, isso as estatísticas, já se sabe, pfff ... - Gesto de desprezo com a mão. - Servem para tudo e o seu contrário.

Bora lá mazé falar com o moço, que temos todos uma coisinha para tirar a limpo.

- Atão menino, tass?

- Olhó... - Interrompido.

- Deixa-te de merdas que não tenho tempo para letra. Olha lá pá, tu que te interessas tanto por números, diz-me cá uma coisinha: porque raio é que o Oliver foi corrido da equipa?

...

Esta análise é baseada apenas em jogos do Campeonato. Não foi feita análise a jogos das Taças – Oliver é quase totalista em ambas – nem da Liga dos Campeões, onde apenas jogou 45 minutos contra o Besiktas. Foi aliás nessa derrota por 1-3 que Oliver deixou de ser titular, à exceção das referidas taças.

Sendo assim, analisei e comparei dados dos jogos em que foi titular (5 primeiros jogos do campeonato) e os restantes em que esteve no banco/bancada (8).

Saliento que isto serve apenas como uma comparação e não será 100% fiável retirar qualquer tipo de conclusão.

Foram recolhidos dados sobre os seguintes itens:

- Passes e Eficiência de Passe
- Bolas na Área Adversária
- Remates Vs Remates Enquadrados vs Golos
- Oportunidades Flagrantes
- Bolas na Área do FC Porto
- Bolas na Área vs Oportunidades Flagrantes dos Adversários vs Golos

Passe e Eficiência de Passe

Neste item, os números mostram que com Oliver, a equipa efetuou uma média de 479 passes por jogo, contra 429,8 sem Oliver.

Curiosidade: Com Oliver a equipa faz mais de meio passe a mais por jogo e por minuto (0,55), em comparação com a equipa sem Oliver.

Posse de Bola

Aqui os números também não deixam dúvidas. Com Oliver, o FC Porto teve uma média de 61,6% de posse, contra 54,5% sem o jogador.



Bolas na Área Adversária

Uma média de 43 bolas por jogo, é o número que a equipa apresenta com Oliver, contra 35,4 sem Oliver.

Remates vs Remates Enquadrados vs Eficácia Finalização

Nos jogos em que Oliver foi titular, a equipa conseguiu uma melhor média de remates por jogo (19,8 vs 16,5), mas acertou menos na baliza (6,6 vs 6,9). Porém, nos remates enquadrados, tivemos melhor finalização com Oliver (36,4% vs 34,5%).

Curiosidade:  a equipa, nos primeiros jogos da época, rematou mais, acertou menos na baliza mas foi mais certeira.

Oportunidades Flagrantes vs Golos

Aqui aparece o segundo item em que a equipa esteve pior com Oliver, apesar da média de golos ser igual. Isto choca com o dado anterior. O FC Porto criou menos oportunidades com Oliver (3,8 vs 4,5) mas devido à melhor pontaria, obteve uma média de golos igual: 2,4 por jogo.



Bolas na Área vs Oportunidades Flagrantes dos Adversários vs Golos

Na parte defensiva da questão, os números mais uma vez estão ao lado de Oliver. Com ele em campo, os adversários tiveram menos Bolas na nossa área (21,8 vs 24,6), menos oportunidades flagrantes de golo (0,4 vs 1,0) e menos golos (0 vs 0,6).



Conclusão

Nos 11 itens analisados e comparados, podemos ver que a equipa com Oliver ganha em 9 deles. Perde apenas em oportunidades de golo e nos remates que acertam na baliza.

Oliver não remata muito, é certo, mas a equipa teve uma melhor eficácia na finalização.

Precisamos de um jogador que segure a bola e passe bem? Já temos. Precisamos de um jogador com mais critério a temporizar e a soltar? Já temos.

Continuo com a minha ideia que num meio campo a 2, o Herrera consegue equilibrar mais a equipa. Mas num meio campo a 3…é Oliver e mais dois!

Por Bala Dragão | Bai à Linha e Cruza

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Foi ele que disse, não fui eu! Eu não tenho a culpa.

O Bala traz uma abordagem que faltava na bluegosfera, daí que passe a figurar na lista de Bons Vinhos e Petiscos. Para além disso, foi um xuxu e dispensou do seu precioso tempo para vos brindar com a análise acima. A vocês, sua cambada de inúteis alcoolizados. Abençoados.

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Sobre a bola de ontem, reservo-me para o A Culpa é do Cavani que gravaremos amanhã. Talvez. 

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Soundtrack to Mr. Bala: Heart of a Dragon

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

António João escreve-se uma carta

Caro António João,

Espero que estas linhas te encontrem bem dos pulmões e regular dos intestinos. Outrossim, desejo que a Maria Antónia mantenha a mão para aquele tempero e as carnes tão rijas quanto as Primaveras permitirem. Enfim, que em par estejam rosadinhos e felizes, quais bácoros num filme de bonecos, desses que vão começar a dar em todos os canais da televisão.

Escrevo-te porque sei que, dada essa anacrónica, ainda que crónica, embirração com tudo o que não seja papel, és o único tipo do Universo conhecido que não ouve regularmente o A Culpa é do Cavani. Resta-me pois esta maneira de te tornar ciente do que por lá se disse, ainda este fim de semana, acerca de uma desconfiança que tinha: aquela coisa da posse de bola estava nos planos, a estranhar-se enquanto se entranhava. 

Quase consigo ver o teu ar de enfado perante a facilidade desta referência ao Fernando, mas é o que se pode arranjar a esta hora da manhã. E é sempre divertido, se mostrares as linhas a alguém, pela possibilidade de acharem que é uma linha publicitária, muito antiga, de uma marca de refrigerante. Sem saberem que...é mesmo. 

Ah as saudades que vou tendo destas pequenas, e mesquinhas, conspirações literárias, ao balcão, copos de três à frente, meio cheios numa garrafa diferente da do resto dos fregueses.

A vaca fria é que ainda ontem nos fartámos, de novo, de ter a chicha. E fomos mais felizes com ela, tanto que o treinador, a empurrar a alegria do cincazero para dentro da sobriedade humilde que decidiu que seria a sua imagem de marca - se bem que a mim me pareça que não dura mais do que este ano - até veio dizer que “nos divertimos com bola”. Citei. 

O resultado desta besta negra da posse são dez golos em dois calmos jogos. Bem sabemos que não terão sido dos mais complicados da época, dados os contextos. Mas poderiam muito bem ter sido, pelo que não me soa ajuizado menosprezar a competência. Da equipa e do treinador, naturalmente. Sobretudo porque é muito bom de ver como ficar com a bola não é incompatível com a objetividade e o foco na baliza. E nem com o Marega.

Agora lembrei-me do Garret, vê tu bem. Um tipo que tem nome de leitaria, diriam os brutamontes, besuntando os seus sonhés de mostarda. E nós sorriríamos e ficaríamos quietos, bebericando dos copos grossos as nossas bebidas brancas. Absinto, se os poetas estivessem na berlinda; um bagaço caseiro, se calhasse apetecer-te discorrer sobre os “Esteiros” da vida; até uma amêndoa, ilegalmente fresquinha, se quiséssemos fazer de conta que não admiramos o Peixoto. Ao ponto de o deixar aparecer neste parágrafo, raios.

Mas foi o Garret que espreitou do meio da tempestade, na terra do choco frrrito. A pessoa a devorar a crónica de viagem e, sem dar por ela, já a parecer uma catraia pubescente, suspirando pelas desventuras da Joaninha, e rapidamente retornando ao estado das estradas do Reino, por onde dificilmente poderá circular um Carlos que salve a moça.

Tu a esperar uma bola para o Sado, a ver se o vento a trava dentro do campo e o Marega a apanha sem querer, e o passe a sair rasteiro e tenso, a morrer na bota do Hector (!) e lá vai o jogo para o outro lado, o adversário a cansar-se na nossa paciência, a recuar - oh, ainda um pouco mais - depois a subir para cortar a linha e - como assim? - bola longa nas costas do lateral. A estrada e a Joaninha. Como se fosse um rascunho - ainda um rascunho - de Garret.

Por outro lado, não temas, irrita-me não me sentir irritado. Talvez seja da quadra, mas dei por mim sem ponta de azedume. Tu dirias que não passo de um labrego iletrado, ignorantemente alegre, enquanto as roldanas do Mundo se movem para o inevitável fim. E brindaríamos a Nostradamus, com um cálice de Porto, e tu procurarias a tua cópia de bolso do “Livro de São Cipriano” e eu brandiria uma velha Bíblia, gasta e anotada e cheia de rabiscos e resultados do Totobola.

Isso não muda nada, nunca mudou. Continuo, e continuaria, com esta sensação de nada a dizer. Como se estivesse a observar Elliot a começar uma folha limpa com how many loved e a riscar, sem saber que lá voltará. Um velho a ver um jovem a errar ligeiramente, por acertar um pouco antes do tempo, seguro de que não demorará muito até gritar a plenos pulmões: Do not go gentle into that good night. Viste? De Elliot a Thomas sem sequer pestanejar. É um dia de absinto, meu caro António João.

Tal a bonomia que nem do André me queixo. Por lá esteve, qual palmito. É certo que não se pode contar com ele para dar gosto ao prato, mas liga com qualquer molho. 

Ora, já cá faltavam as receitas. Não tardaria até estares a imitar a Modesto ou o Herman ou a fazer de Chefe Silva na sua versão Sueca. Amarretada. Por falar em gente rude apreciadora de belas comezainas, abriríamos uma garrafa de Soalheiro e faríamos questão de brindar em copos adequados.

Somos sempre tantos e apenas estes dois, sejas tu José ou Maria, quando o tempo se proporciona e o assunto - que era mesmo qual? - se acomoda à pena. Hoje foste António , ainda por cima João, não fosse ficar menos evidente a multiplicidade. Por teres sido esse é que te minto e te digo que escrevi, quando na verdade digitei. Se te revelo a farsa nestas últimas palavras, é na esperança que me venhas pedir contas. Com o nome que quiseres.

Recebe um forte abraço deste que te estima,

António João

...



quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Concurso de talentos



Sabem aquela malta que vai aos concursos de talentos e não tem porra de talento nenhum? Como aquele senhor, natural de Marco de Canaveses e habitante de Vila Meã, que foi imitar um comboio a carvão. Está claro que, como no caso vertente, muitas vezes acabam mesmo por ficar na História. Não é bem pelos motivos que gostariam, certo? Eu fico sempre a pensar: fuoda-se, mas quem é que disse a este tipo que era boa ideia fazer isto?

Acredito que em muitas situações a culpa não é do pobre desgraçado, apenas. A mãezinha sempre me disse que eu cantava como um rouxinol, os amigos acham uma piada imensa quando solto gases, toda a gente na minha rua concorda que eu sou o novo CR7. E pronto, de tanto a comuna tentar ser querida e fofinha e simpática com o sujeito, lá acaba ele por se esbardalhar aos olhos de toda a gente. Anda Guedes!

Eu cá acho que há alturas para tudo. E se as moças cantam mal, é melhor não lhes dizer que estavam bem era no Chuva de Estrelas. Não vá a coisa dar-se e eu ter que carregar o peso de ter sido o criador do Duo L&G o resto da vida. Right, loves?


...

Ora então, ontem o FCP cumpriu a sua missão e arrumou a qualificação para os oitavos da Champions. E não fez por menos, enfiou cincadois ao Mónaco, Campeão de França e semifinalista desta competição a época passada. No conjunto dos dois jogos disputados contra a supostamente mais forte equipa do nosso grupo, fizemos 6 dos nossos 10 pontos, marcámos 8 golos e sofremos 2. Inchem!

Mas o que dizer sobre a partida de ontem? Ora deixa lá ver como colocar as coisas...foi assim a modos que...cinco golos e tal...bem, é como quem diz...jogámos uma merda. Pronto, é isto. 

Eu bem sei que parece mal estar a escrevê-lo e isso tudo, mas pá, é que foi mesmo. Não quero, nem posso, desmerecer o trajeto quase impecável que temos feito este ano desportivo, tampouco a relevância de termos atingido este objetivo, nada disso. 

O que não quero é entrar no carreiro e acrescentar a minha às vozes que se levantam, dizendo que o menino cantou bem, parecia um anjo. Nop, cantou mal que se fartou, chegaram a doer-me ojóvidos. Se aquilo era um concurso de talentos, tinha ficado selecionado para o compacto dos bloopers. Lendo o que por aí se foi escrevendo, devo dizer, por justiça, que começo a admitir que tenha entrado no estádio errado, numa dimensão diferente, dados os problemas técnicos dos torniquetes, ontem. Menos mal que o resultado foi o mesmo.

O facto é que ao intervalo o FCP já tinha arrumado a questão. E também se tinha arrumado dos oitavos o Felipe, à conta de andar às beijocas com um adversário. Tínhamos feito dois golos nos primeiros remates à baliza, perdido 3512 bolas no inicio da construção e feito 4365 passes errados. Perante um Mónaco que, felizmente, não apareceu para jogar a primeira parte. Disso não temos nós culpa nenhuma. Como somos pessoas bem educadas, até agradecemos e fizemos bastante menos do que podíamos. Para poupar os coitados.

E mais vos digo, acabámos o jogo com mais de 60% de posse de bola e aposto que ao intervalo a percentagem seria maior. O que me levou à primeira conclusão que tirei deste jogo: não queremos lá muito ter a bola, porque não sabemos ter a bola. É assustadoramente simples. Das perdas potencialmente comprometedoras junto da nossa área, aos passes do Danilo para os placares de publicidade, passando por charutos "vai Marega" dos centrais, viu-se o reportório completo. E a coisa só deu ares de melodia, quando Brahimi se lixava para a ala e ia ao meio tocar qualquer coisinha ou Aboubakar recuava abaixo da linha de meio-campo. Ver o terceiro golo, é perceber a diferença que a técnica faz. Entre os dois.

É certo que Otávio se lesionou no aquecimento e isso terá feito alguma diferença. Oh, fez toda a diferença. Ter André André na equipa ou no banco faz sempre muita diferença. Digamos que jogámos 10 contra 11 até às expulsões. Nesse momento, teríamos ficado 9 contra 10, mas saiu o bom do André e as coisas equilibraram-se numericamente. 

Como é que posso dizer-vos isto? Ele é o seguinte, eu acho que o André estava bem era nos lampiões. A sério. E não é para os enfraquecer mais, apenas. É porque acredito genuinamente que ele seria importante e feliz por lá. Parece que o estou a ver: André recebe a bola, André dá dois passinhos, adversário aproxima-se, André cai e levanta os bracinhos a pedir falta. Pá, no 5LB e no Campeonato Nacional, isto tem muito potencial para resultar. 

A malta que está pronta para disparar um "sim, sim, vai ver o lance do segundo golo...", é favor ir mudar de truces. O André participa, falhando um passe. Não era para o Danilo que ele queria passar. Passar? Era mais livrar-se da bola, mas ok...

Resumo da primeira parte: três secos no bucho do Mónaco, jogar à bola não nos assiste, André negociado para Lisboa.

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A segunda parte foi diferente. Se por haver menos gente em campo, se pelos golos do adversário, não sei. Para mim, a diferença deveu-se a...WTF?!... Héctor Miguel Herrera. 

Que grande segunda parte, menino. O melhor Herrera que já vi e olhem que já vi muitos. O moço recuperou bolas, circulou a chicha, pressionou o adversário, orientou os colegas, fintou!, fez passes de rutura, ganhou metros em condução, ufa, uma canseira de tanto bem jogar. Assim, vale bem os tais 30 milhões, sim senhor. 

O problema é nunca ter aparecido antes, o que me leva a crer que o da primeira parte - jeitoso para o modelo, mas sempre com uma herrerice engatilhada - é o que nos vai tocar na rifa já a seguir. De qualquer maneira, ele existe! Eu vi. Gostei. Manda mais. Standing ovation

Em resultado disto, os centrais tiveram que construir menos, Danilo também e pode libertar-se, as coisas correram melhor. O Mónaco é que só apareceu quando Moutinho e Falcão entraram. É indecente termos que andar a emprestar jogadores à outra equipa para darem alguma luta.

Também gostei basto do golo do Soares. Uma bela tolada no meio dos centrais. E pus-me a pensar: se em vez de acertar na bossa que o Marega tem na cabeça, aquela bola de sexta-feira tem caído na cabeça do Tiquinho... Está claro que para isso era preciso que não se tivessem lembrado de pôr o Marega a 9 e o Soares a descair numa ala. Na sexta, sim. Oh well, não ter entrado o André André para ponta de lança, já não foi mau. 

Resumo da segunda parte: Herrera, Herrera e mais Herrera, Soares is backisto e isto.

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Enquanto os lagartos, à imagem do seu treinadorzeco, se acobardam e saltam fora, não indo além do mais do que normal no seu grupo (1 ponto em 4 jogos com Barça e Juve); e os lampiões são a chacota da Europa inteira; o FCP faz pela vida e apurou-se num grupo muito difícil, porque muito equilibrado, mais ainda quando o favorito se estampa ao comprido e o supostamente mais acessível se revela o bicho papão. Fomos fortes, fomos competentes, fomos eficazes, merecemos muito a eventual felicidade que possamos ter tido aqui e ali. Muito bem Sérgio, muito bem equipa. 

Mais uma vez, somos o representante único de uma Liga, de uma Federação, de um País que não nos respeita e não nos quer bem nenhum. I speak the truth. Vai Vitor.

Agoooooraaaaa, isto foi cantar lindamente no chuveiro. Não pensem que estão prontos para os Coliseus. Podemos jogar mais. Aliás, devemos. E já o fizemos que eu sei!

De qualquer forma, tendo em conta o que somos e o que, aparentemente, queremos ser, defendo que os oitavos são mesmo a nossa praia. Não aquela em que morremos, mas o sitio onde nos sentimos bem. É que vêm aí os tubarões. Ao contrário da maior parte, acho que nós desatamos a bater palmas. Explico:

O mais provável é que nos toque uma grande equipa. Para mim, seriam bem-vindos o City ou o Barça, mas pode ser um Inglês qualquer, menos o Zé e seus mastodontes. O que queremos mesmo é malta que goste de jogar à bola, trocar a redondinha de uns pójôtros, atacar, correr alguns riscos por força do seu maior cartel e assim. 

E nós, sem a bola que nos atrapalha, prontinhos a disparar um Marega direitinho para onde estiver virado, um Brahimi em ziguezague até à área, o Héctor de orelhas em riste, up, up and away, qualquer bolinha parada, com creme e tudo, a eficácia do Aboubakar a finalizar o contra-ataque. Oh sim, os oitavos são a nossa praia. Uma em que vamos passar em direção aos quartos. Siga!

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Para vossa grande tristeza, mas merecido descanso dos respetivos tímpanos, o A Culpa é do Cavani, Especial Champions, só se grava no próximo sábado, por motivos assim assim. Deal with it.

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Soundtrack to Mr. Silva: ...baby, i don´t care!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A Mesa do Canto: O homem charmoso - definição (por Gabriela Maia)



NOTA INTRODUTÓRIA

Ano e meio após me ter sido solicitado pelo meu mais-que-tudo (e muitas referências ao quanto eu desconsiderei o pedido), aqui vai um pikeno textinho de minha autoria.

O tema foi-me dado, mas acho que, embora abordado, não era bem isto que o Silva pretendia.
Oh well, life sucks! Tu não mandas em mim e eu sou uma gaja imprevisível!


PREÂMBULO

Enquanto na prática e no mundo real e concreto seja um facto largamente comprovado que os anos passam, o mesmo nem sempre é certo dentro das nossas belas cabecinhas.

A mais nova, por exemplo. Sabemos que cresceu. E sabemos porque a roupa de outros anos vai deixando de servir em comprimento e, em zonas especificas e localizadas, em largura também. Porque chega a casa e se enfia no quarto e só sai para comer, fazer a higiene pessoal e lavar a (pouca) louça (sob veementes protestos, TODOS OS DIAS e uma ou outra tentativa de greve de fome). Porque já não corre desenfreada e aos gritos nos espaços públicos, como uma criança que viva habitualmente encarcerada. Porque (GRAÇAS A DEUS) já não faz birras 328 vezes ao dia… agora só amua 233 e reclama de tudo, na generalidade, 981.

Mas depois chegam aqueles 15/20 minutos que sucedem o jantar (TODOS OS DIAS! E eu cá tenho a teoria que é uma mera estratégia para adiar a lavagem da louça, à espera que alguém se esqueça ou que a mesma se lave sozinha.) e é o descalabro! Recuamos 10 anos no tempo e de repente a menina tem outra vez 4 anos. Não satisfeita, o avozinho desencarna nela, qual morada aberta, e lá vem o Acácio (Uláááá!) infernizar-nos aqueles momentos em que, iniciada a digestão e possuídos pela preguiça, o que nos apetece mesmo é estender as perninhas na cama, com o computador por cima e regalar-nos a ver episódios de séries várias, literalmente até à exaustão. E dormir. Mas não!

Nem vou estender-me com os pormenores, porque este não é o tema do post. Posso só dizer que com tantos gritos e barulhos diversos, os vizinhos devem pensar que a menina é vítima de graves atentados à integridade física; vulgo, violência doméstica. Nem sei como nunca fomos visitados pela Segurança Social… mas vai-se a ver, estará para breve. Adiante.

Num destes dias, a propósito dum jantar de consoada de S. Martinho (que, como tão poucas pessoas conhecem esta antiquíssima tradição, eu começo a desconfiar que é uma invenção da minha mãe para nos por a comer bacalhau com batatas e couves, castanhas e bolo rei, fora da época Natalícia), a conversa derivou para a política e a miúda aborreceu-se. Ora, sendo horas do Avô Acácio nos fazer a habitual visita e estando o senhor à vontade, visto que aquela fora mesmo a casa dele, lá desceu sobre a rapariga e, a partir daí… não sei como se desenvolveu a conversa da política. Mas também, duvido bastante do interesse dos temas em debate. No harm done.

Na ausência de uma cama, de um computador e da ameaça de uma “noite sem tecnologia”, demos por nós agarradas ao telemóvel, a fotografar pormenores do rosto, de preferência passivos de provocar náuseas e repugnância. Sim, tínhamos acabado de jantar e não teria piada de outra forma!

Ele foi o interior das narinas… acreditem, não é bonito ver em pormenor esta parte da anatomia de alguém que até anda meio constipado. Não é não! (Devo acrescentar que os telemóveis, hoje em dia, estão dotados de potentes câmaras, com uma resolução extraordinária. Para o bem e para o mal.)
Ele foi uma borbulha (vulgo espinha) pubescente…

Ele foi um olho com a particularidade de ter um sinal na íris… Hã?


AO QUE INTERESSA

E pronto, todo este preâmbulo foi para nos trazer a este momento específico. Era dispensável? Era. Podia ter sido MUITO mais breve? Podia. Mas eu tinha esta dívida e estou a pagar com juros (e com sorte, para a próxima, pensam duas vezes…).

Àqueles que ainda estão connosco e ainda guardam uma réstia de esperança que a coisa se componha, agradeço a paciência, mas aviso já que isto não vai melhorar!

(Aguardemos então uns momentos para que os desistentes possam ir à sua vida, fazer coisas interessantes, enquanto choram pelo tempo perdido que não recuperarão nunca mais.
Ok, parece que se foram. Vamos então…
Ups, aquele senhor pensou melhor e também vai.
Sim, agora estamos em condições de continuar, nós os dois – eu e tu, babe!
...

Ficámos, então, num close up de um olho que diz que é meu. Diz que é, porque eu ainda tenho as minhas dúvidas! E porque é que tenho dúvidas? Porque lhe vislumbrei umas pequenas riscas em redor (vulgo pés de galinha - porque rugas não serão certamente! Ai o caraças!), que não se coadunam nada com a frescura destes meus 18 ou 20 e poucos (mais 1 ou 2) anos! Shit! Queres ver que afinal não tenho 35 anos?! Merda de câmaras potentes com resolução extraordinária!

E esta estranha descoberta desencadeou uma crise existencial que me levou numa viagem de profunda introspeção, em que me coloquei as célebres questões básicas que assombram todos os seres humanos: Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? Qual o significado da vida? O Benfica ainda tem hipóteses de ser campeão?... (Quêêêê???!!! Queres ver que discriminam os benfiquistas aqui na Tasca!)

E a que conclusões cheguei?, perguntam vocês. Bem, relativamente ao Benfica, não faço a mais pálida ideia, porque não percebo nadiiinha de bola, para além de que é um tema que ora me entedia, ora me aborrece!

Quanto ao resto… posso dizer que fiquei um teco deprimida! Passo a explicar.

Ora bem, eu sou uma gaja, certo? Certo! (Podes afiançar isso, luv!) E nós, gajas, somos o fairer sex. Somos aqueles seres lindos, maravilhosos, sexys, misteriosos, manipuladores, distantes, com mamas e pernas e rabiosques apetecíveis. Blá blá blá!

Passamos uma parte da nossa vida (metade, mais coisa, menos coisa, se atendermos à esperança média de vida) a ser veneradas, desejadas, endeusadas. Enquanto os gajos são considerados o refugo da evolução, não obstante haver um ou outro exemplar bonito e/ou jeitoso, mas sempre de qualidade física inferior à gaja! “Nós, gajos, somos feios, sem jeito e tal e coisa!” – dizem os próprios à boca cheia. Dizem sim, que eu já ouvi! E de repente, sem que nada o anuncie, por isso nos apanha despercebidas, o cenário muda! Inverte-se!

Chega a altura em que nós, Deusas do Olimpo, por força de esgotarmos o tempo para cumprimento do nosso desígnio biológico enquanto espécie, parece que deixamos de fazer falta e por isso podemos definhar e falecer à vontadinha! É, a natureza tem estas coisas engraçadas, sem ter piada nenhuma.

Como dizia o meu novo médico da especialidade das partes íntimas e zonas correlacionadas: “As mulheres nascem com um armazém de células - os ovários - e, por volta de uma determinada idade, esgotam o número de óvulos disponíveis. Ora bem, a partir desse momento, as mulheres deixam de ter uma função biológica e começam a envelhecer… e morrem. (O dito senhor é bastante pragmático a falar… bruto, mesmo! Mas depois até é fixe noutras coisas e eu simpatizo com ele. Não invalida que me deprima, obviamente. Oh well, mixed feelings.) Já os homens – continuava ele, orgulhoso de si próprio e de fazer parte do grupo dos felizardos -, nascem com uma fábrica de células! Os testículos que produzem os espermatozoides. E produzem-nos até morrer!” – e parece que incha de tanto orgulho! Ou seja, depreende-se que a função biológica dos homens é válida por tempo indeterminado. Como os contratos na Função Pública: é para a vida!

Mas voltando ao assunto que aqui nos traz, por muito injusto que isto me possa parecer (e é!), nós mulheres, depois de sermos as melhores e as maiores, envelhecemos! Só isso: ficamos velhas aos poucos. E não melhora. É até morrer. Kaput!

Pimbas, uns cabelos brancos aqui (vai de colorar com regularidade), umas rugas ali (uma pipa de massa em cremes e massagens e tratamentos), umas peles descaídas acolá (mais cremes e mais massagens e mais tratamentos), umas gorduras acumuladas por todo o lado, com especial enfoque na barriga para parecermos velhas e, ironicamente, grávidas e com refegos a sair por todo o lado (ginásio à força toda). E isto para não falarmos das mudanças de humor repentinas, do termostato avariado, das insónias e o diabo a sete! Olhe-se por onde se olhar, não há nenhum lado positivo neste processo.

Passamos de Deusas a cangalhos! Fuck! E sem perspetivas de melhoria até ao fim dos nossos dias. Double fuck!

E os produtores infinitos de espermatozoides? Sim, esses tipos mal-enjorcados que passaram metade da sua vida a invejarem-nos e a desejarem-nos? O que lhes acontece? Também envelhecem! É, leram bem, envelhecem… mas não envelhecem só: ficam CHARMOSOS!

Os homens melhoram com a idade!!!! Aaaaahhhhh, ironia!!!!!

Parêntese: Ok, nem TODOS os homens envelhecem bem, é certo, mas também nem TODAS as mulheres são Deusas, correto? For the sake of argument, vamos generalizar e pronto. Todos (eu e tu, amor, que somos quem aqui chegou. Se bem que me pareceu que ali atrás leste na diagonal…) de acordo?

E o que é um homem charmoso?, perguntas tu. (E perguntas. E perguntas. E tornas a perguntar. Há um ano e meio.)

Não é fácil responder, porque a minha opinião é isso mesmo: meramente pessoal. E nunca fui fundamentalista de ideias e conceitos, por isso charmoso é isto, mas também pode ser aquilo.

Não, não estou a fugir ao assunto, não senhor! Estou aqui prontinha para responder a esse repto, com toda a minha sabedoria acumulada de pés-de-galinha, peles descaídas, refegos vários, afrontamentos e instabilidade emocional.

What?!...


JÁ NÃO ERA SEM TEMPO

Nossa!!!! Já são estas horas?!!! Meu Deus, como o tempo passa!

Credo!!!! O texto está assim tão extenso?!!! Deus me livre, como é que alguém (tu, babe), teve paciência para ler esta trampa até aqui? Continuas a surpreender-me. Pela positiva. E é por isso que te amo. E pela tua linda e enorme pila também, claro!

Bem, mas agora não te vou fazer perder mais tempo precioso, porque sei que és uma pessoa super, híper, mega ocupada e, por muito que me custe e eu gostasse, a resposta à tua questão terá de ficar para outras núpcias. Bolas!

Anyway, talvez daqui a um ano e meio!
Ou 20, quando eu chegar a essas idades em que as mulheres envelhecem e, então, acumular essa sabedoria toda a que fiz referência ali atrás.

Love u, my hero!

Por Gabriela Maia

Esta gaja opta por escrever na ortografia antiga umas vezes, noutras não. Boazona! 

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É tããããããããooo foooooofa! Às vezes tenho receio de a apertar tanto que lhe esmague o tórax. E parva, também é bastante parva! Love u back, my Queen Bee.

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Soundtrack to a half: The one with all the strenghth.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

La bouche at the trombone



Tenho estado a pensar, desde sexta-feira, em como é curiosa a dinâmica da opinião. Por exemplo, notam-se já muitas baterias apontadas ao Presidente. Reformulo, não estão de novo, sempre estiveram, mas ultimamente discretas, por força dos resultados. Os mesmos que o fizeram abrir a boca, porque de outra forma permanece mudo. Agora, volta a ouvir-se o "onde está o Presidente?" de outras ocasiões.

Lá está, eu concordo. Não podemos reagir a tudo o que nos têm feito como se fosse um arrufo. Caramba, passaram-nos óleo de bebé nas nalgas, vaselina no olho do coiso e enrabaram-nos à bruta, sem sequer nos pagarem um cafézinho. Em nossa casa, diante de toda a família, riram-se e foram-se embora a gritar "shhhh, pouco banzé, oh panasca, tu sabes que gostas". Naturalmente, é difícil agora aceitar que deixem a falar sozinho o único tipo - para além de nós! - que disse alguma coisa sobre o sucedido. Precisamos do "pai".

Digo, precisávamos. Teria sido importante para nós que ele aparecesse e armasse um chinfrim do caraças. Que ameaçasse os malfeitores, que viesse de caçadeira de canos serrados, aos tiros, a mandar abaixo tudo o que mexesse, indignado como nós, perante a violação brutal a que assistira. E nada. Pois claro que concordo com quem pergunta onde está o Presidente.

Só que eu acho que era importante para nós, para dentro, ponto. Ao contrário dos que pensam que faria alguma diferença, eu acho que seria indiferente para todo o resto. Reparem do que se fala, dois míseros dias passados: Dragão à porta fechada. Futebol a ferro e fogo, à conta de mosquitos por cordas no distrital. O Ministro a apelar à paz e à contenção. Isto é, ninguém quer saber do modo como 8 pontos passaram a 3 e a liderança foi de isolada a partilhada. Como se toda a gente tapasse os olhos e pusesse os dedos nos ouvidos, enquanto canta lalalalala bem alto. Como os putos. Porque isto não passa de uma brincadeira.

Por outro lado, já vejo a formar-se a corrente "a SAD não deixa o Oliver jogar". Dá-me para rir, mas preocupa-me, porque revela já - e é tão cedo ainda - um certo desnorte da minha gente. Vejamos, se isso fosse assim, o nosso treinador poderia ser na mesma o líder que pintam? E que ele próprio gosta de assumir que é? Afinal, alguém faz a equipa que não o treinador? Este? Eu concordo que é um disparate grande ter o melhor médio do plantel encostado, mas penso que é uma decisão - estúpida! - da exclusiva responsabilidade do treinador. E isto é um sinal de respeito. Meu por ele.

É nestes momentos que olhar de cima, com a frieza possível, por norma resulta bem. E não o estamos a fazer, de novo. Não os adeptos, a quem nada deve ser pedido, senão sentimento e apoio. Mas os responsáveis, aqueles que deveriam já ter encetado o caminho que nos tire desta lama. Isso não se faz tornando mais relevantes programas de televisão - como muitíssimo bem apontou o Jorge Vassalo no último A CULPA É DO CAVANI - e as pessoas que os protagonizam. O "Dallas" não pode ser mais importante do que a produção de petróleo do Texas. E o tempo é...foi! Era ali, na sexta-feira, em cima, com o ferro quente. Para ninguém ouvir, mas nós não nos sentiríamos tão abandonados. Mais uma vez, cheio de razão o meu amigo do Porto Universal.

Parece-me que começamos a ficar tolhidos, espantado e perdidos, prestes a entrar na fase do "não há nada a fazer". E aí, os adeptos vão acabar por desistir. Ou partir para a puta da loucura. Uma delas. Não há necessidade. Porque ainda há muito a fazer. É só pensarem um pouco e elevarem-se da lama. Embora às vezes me pareça que a lama lhes convém. Que é para lá chafurdar que nos preparámos. Mas há alternativa.

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Singelamente, apresento, sem muito tempo de reflexão, uma linha de atuação que me parece muito interessante, exequível, sustentada e, melhor do que tudo, bem mais eficaz do que esperarmos por amanhã e mais um episódio da nossa raiva. Requentada. E é trabalho de comunicação também. Vejam:

Na quarta-feira, há uma boa probabilidade de o FCP passar a ser o único representante português na Champions. Isto significa que seremos o único clube nacional com acesso aos media internacionais. Porque nenhum outro interessará. No limite, os lagartos, dependendo da performance, terão uma nota de rodapé. Vai servir para vender o Gelson.

Ou seja, em contraponto com a comunicação social ao serviço do desígnio nacional, enleada nas audiências vermelhas, perfeitamente autista para a realidade e, portanto, para os justos protestos do FCP; temos do outro lado media nada comprometidos com o tuga status quo e interessados exclusivamente no FCP. Por quanto tempo, não saberemos, porque dependemos de sorteios e afins. É por isso que exorto quem de direito a aproveitar e já! Para elevação das almas, esclareço o meu raciocínio:

a) A tutela delega na FPF esta coisa da bola. A FPF delega na Liga a parte profissional. Mas detém os árbitros, bruxo.

b) A Liga depende da qualidade dos concorrentes e, em boa parte, da reputação. É assim que pode valer dinheiro.

c) A aspiração, cada vez mais clara, do líder da FPF não se esgota em Portugal, longe disso.

d) A tutela não está nada interessada em banzé. Menos ainda em "sujar" a imagem de meninos exemplares que os resultados, mormente económicos, vão construindo.

Por tudo isto, sugiro que a próxima conferência de imprensa do nosso treinador, em antevisão ao embate contra o Mónaco, se centre em... sexta-feira. Fazer a ponte não é nada complicado: equipa desgastada física e, sobretudo, animicamente --» roubalheira indescritível em Portugal --» na Europa somos respeitados, em casa não --» o departamento de comunicação pode, a quem se interessar, fornecer um dossier completo sobre o que se passa em Portugal. E a seguir a esta, teremos pelo menos mais três. Usem-nas!

Jorge Nuno Pinto da Costa é o mais titulado Presidente da história. Ser-lhe-à difícil conseguir algum tempo de antena, no âmbito da Champions, para reforçar aquela mensagem? Não poderá o departamento de comunicação tratar disso? Claro que pode.

O nosso treinador, tão conhecido em França - já que é de Mónaco que se trata a seguir - tão rápido a revelar as fraquezas do seu plantel e a ausência de reforços de cada vez que um jornalista da estranja lhe deu antena, não poderia agora contar como está a correr a experiência de disputar um campeonato que não pode ganhar? Ou como se passa de 8 potenciais ponto de avanço do tetracampeão para 3 e liderança partilhada com o vizinho da Capital? 

Infelizmente, não posso utilizar na minha estratégia de comunicação algumas armas ainda mais relevantes. Um jogador com milhões de seguidores, com um impacto junto dos media internacionais ao nível das grandes estrelas mundiais - o que valeria o CR7 dizer que em Portugal o Campeonato está "comprado"? - um homem cuja palavra, porque ponderada e inteligente, é respeitada por todos e, ainda melhor, ouvida. Só que não conta para o totobola. Porque o que toda a gente quer mesmo saber de Iker é porque não joga e quando sai. Podia ajudar-nos muito nesta luta? Podia, mas não nos estava a apetecer. Porque não pensamos para lá dos nossos pequenos umbigos. Vossos.

Em resumo: usem os microfones que vos vão apontar e digam o que se passa! Não aos de sempre, mas aos que nos querem ouvir. Saltem a fronteira, elevem-se da lama. Não aumenta as audiências do Universo Porto, mas quem sabe faz mais mossa, porque chega mais longe?

Quanto tempo até alguém perguntar ao Facadas Gomes, em pleno scotch depois da reunião do board: Say dear, what the fuck is happening down there? Are you having trouble at home, dear? Não lhe ia ficar bem, por muito que desvalorizasse. Até porque há foras de jogo difíceis de explicar e penalties demasiado evidentes, por mais que o queiram não ser.

É mostrar-lhes como tem corrido a pioneira experiência portuguesa do VAR. Quando funciona, para quem funciona, que resultados tem. E deixar o Facadas explicar.

O mesmo serve para o Pedro Dentinhos Novos nas suas negociações de patrocínios e direitos e o diabo a quatro. Vende lá esse jogo mais coreografado do que o wrestling americano. Boa sorte com isso, Pedrocas.

Ou o nosso em breve Presidente do Eurogrupo, visita regular - à esquerda de sua Excelência o Primeiro Ministro, que à direita fica o António Costa - de determinado viveiro de octópodes, a ter que entabular amena cavaqueira sobre estas coisas do futebol, em vésperas de Mundial. O franciu ainda ressabiado, de sorriso trocista: Mais que se passe t'il la bas, Marriô?

Se acharem tudo parvo e muito a despropósito, então pensem em alternativas. Como está, não resulta. Trabalhem, carago!

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Soundtrack to Champions: Speak!



sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Vão pró caralho!

Estou cansado, das milhas no lombo que se montaram em cima de uma inoportuna constipação. Outra. Não a vou piorar no Dragão, mas era exatamente o que faria, não se desse o caso de - desculpa Porto - haver quem ame mais do que ao FCP. Enfim, é certo que o faria e os amores maiores sabem que áquela hora estarei longe, fechado, um senhor de idade, circunspecto e mal humorado, até rebentar no fundo das redes a alegria do catraio travesso, escondido por detrás dos óculos que me envelhecem. Mais.

Logo de manhã, encarei um tipo de fato de treino vermelho, emblema de aviário bordado ao peito. É natural que as costas moídas, o nariz assado, o sentimento contraditório da jornada que iniciarei daqui a pouco e mais este anormal, me tenham azedado um pouco. Quem nunca? 

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De repente, está toda a gente a falar de futebol, como que a toque de caixa das conferências dos treinadores. Um, porque não tem o que dizer e mal amanhou umas frases que metiam e-mails, no seu jeito labrego de quem não sabe do que fala. Outro, porque sente frio quando as luzes não incidem diretamente sobre os seus costados. Azedo, eu sei. Ao fim e ao cabo, essa é a missão deles. Só que...

Mas que raio, então está criado o clima de agoréksebaibêr? Really? Como se o resultado de hoje, importante que é, pudesse apagar ou conduzir para segundo plano tudo o que fomos descobrindo. Como se um punhado de terra, fértil que seja, fosse transformar a lixeira a céu aberto num lindo laranjal, pelo qual se passeiam luzidios unicórnios e multicolores aves do paraíso, enquanto simpáticos Pégasos rasgam as nuvens de algodão doce. Este o momento que esfumará qualquer outra verdade. O resultado que interessa, único.

Ora, vão pró caralho! O polvo não será menos corrupto se ganhar, mesmo que, por uma vez, justamente. Nem quem o acusa perderá legitimidade por isso. De igual modo, se o Bem - que somos nós - triunfar, ainda que da forma expressiva - cincazero! - que espero, não ficará tudo bem e as contas acertadas. Longe disso, muito longe, não se deixem levar. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

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O Presidente da Liga, arreganhando a sua estupenda dentição postiça, clama que o futebol espera decisões da Justiça. E rápidas. Como está toda a gente preocupada é com a bola, isto tende a passar despercebido. Só que eu estou azedo.

Olha, Pedro, vai pró caralho! Onde está a reabertura do caso dos vouchers tão céleremente arquivado? E os resultados do suposto inquérito aberto à conta dos e-mails? Onde está o teu Conselho de Disciplina, quando não ocupado a multar e banir Super Dragões? Porque esperas pela Justiça? O que aconteceu a Ricardo Costa e a todos os envolvidos na descida de divisão do Boavista? Se nada, porque mudaram agora os procedimentos? Porque não temos consequências desportivas de todas as acusações pendentes contra o mesmo clube? Esperas pela Justiça? Ou ficaram tão caros os dentes que agora lhes ganhaste estima e tens receio de os perderes? De novo.

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Futebol? Hoje não falo de futebol, vão pró caralho! Entretenham-se vocês com isso, porque depois desta manhã, eu já vi tudo...

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Com uma vénia ao Joel Neto, por não me ter deixado a pensar que sou é tolinho. Pena ser lagarto. Ele, foda-se. Vão pró...isso.