quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Nomes - C.C.





- Ainda ás voltas com isto, velhote? - Digo para a pilha de papéis na mesa.
- Cada vez mais interessante. Ora veja lá esta. - Estica o braço com a folha amarelada na mão, não levanta a cabeça, não me olha.

"Nomes - C.C.

Agora é de noite menos tempo, nos dias em que me deixas ir embora. Mas os meus olhos, as mãos, a parte da perna que liga ao peito do pé, permanecem imersas no escuro do Cruzeiro.

Existo num quarto cavado na terra, pontilhado pela luz azul do desumidificador, pelo led vermelho do ecrã na parede, e povoado pelo nosso cheiro. Depois do corpo, o peito e a mente mergulham gratos nesse breu em que somos tudo, sós, inteiros. Oh sim, eu sei que é apenas um marco no meu pensamento, um lugar arquétipo que decido guardar. Houveram lágrimas a denunciar a distância da redenção. Ainda assim, os dias crescem e eu permaneço, tétrico, nesse túmulo perfeito.

Foge-me um sentido, creio que o olfato, para a alegria que nos saltita pelas escadas e para o orgulho que nos ameaça voar pelos céus do Mundo. Com elas toda a obra, grande e inacabada, que somos e queremos ser. E penitencio-me. Sorrio para todos os que sorrimos à luz cada vez mais cedo, mais tempo. Desculpo-me, desculpo-nos.

Nos olhos, nas mãos, em pleno dia já, sei que me deixaste ir embora e vejo e toco o breu do Cruzeiro. A vida resume-se num solavanco do comboio, mas não me rouba da metade que me guardas nessa casa eterna. Guardas?"

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A ronda das mesas



(para o Armando Monteiro, na esperança que continue a passar por cá)

- Mula Velha?

- Sim, é para nós Silva. Olhe lá, então já temos o Eusébio a caminho do panteão hein? Vá lá, diga la que é por ser do glorioso. Aposto que está tudo comprado, não?

- Engano seu, lampiãozito. Eu acho que o Eusébio é, de facto, alguém que transcende o seu clube. Um símbolo nacional, se quiser. Olhe, como a Amália, que também por lá anda. Claro que estou tentado a fazer uma analogia com o Fado, Futebol e Família. Os dois primeiros já la estão. E o que vocês, nesse contraditório vermelho, gostavam do tempo dos três Fs, hein?

- Lá está você... - Interrompo:

- Aqui fica a garrafinha. Bom proveito. Ah, e já agora, um dia destes diga-me o que acha que devemos fazer com o Carlos Lopes e a Rosa Mota. Campeões olímpicos, unanimemente considerados lendas vivas nos seus desportos. Enfim, símbolos nacionais. Construímos um avançado ou uma marquise no Panteão? Que me dizem? Até já


- Ora cá está um traçado, um Três Marias e dois Submarinos. Era isto, certo?

- Nem mais amigo. E os gregos hein? Lá vão levando a água ao seu moinho. Surpreendido Silva?

- Porquê? Por terem conseguido mudar o nome da Troika para Instituições Internacionais? Por terem pedido mais seis meses de resgate e terem conseguido quatro? Por terem deixado cair o perdão da dívida? Por terem até hoje para apresentarem medidas de austeridade, chamem-lhes o que quiserem? Não amigo, nada surpreendido, não é como se tivessem remédio. Mas ainda não perdi a esperança que isto acabe por servir para alguma coisa. Qualquer coisinha é só gritarem ok?

- Você é tramado...


- Tosta mística à Tasca e uma Opinião a estalar. - Sorrio.

- Obrigadinho pa. Olha lá, já reparaste que anda tudo a ferver por não dizermos nada? Eu também já não percebo, porra. É demais o colinho, roubalheiras em todos os jogos e nós moita carrasco! Achas isto bem?

- Nem acho, que é para não discutir contigo.

- A sério pá, o que achas?

- Pelo que vejo nos tascos que vou visitando, acho que a culpa do colinho aos vermelhos é... - Pauso de propósito, fixo nos olhos expectantes do meu compincha. - A culpa, meu caro, é do Pinto da Costa. Tanto nos ensinaram isto, que parece que agora já acreditamos. Haja pachorra. - E viro-lhe as costas.

- Não te vás embora. Já engoliram o Lopetegui, agora parece que vão mesmo ter que engolir o Tello. Deves andar todo inchado, meu sacana.

Não consigo evitar arreganhar a taxa. Instintivamente olho em volta, à procura do Miguel. O tipo avisou-me para não me por com "eu sabias". Mas era mesmo de "eu sabia" aquele sorriso. Espero não ter sido apanhado.


- Meia de leite e meia torradinha, minha linda.

- Ai Silva, você é cá um maroto. - Adoro quando as rugas se distendem e os lábios desenham aquele sorriso e os olhos ficam 40 anos mais novos. - Oiça lá, parece que houve aí um jantarinho  muito secreto, não foi?

- Foi? Não reparei. Se descobrir alguma coisa conte-me logo. Sabe que eu detesto perder essas histórias. - Ela sabe que minto com todos os dentes, incluindo os chumbados.

- Prometido. E fique descansado. - Semicerra os olhos numa linha. - Eu vou descobrir...


- Aqui está a sua tacinha de tinto, avôzinho.

- Obrigado. Ajude-me aqui nas palavras cruzadas: quatro letras, o que é o que pretende ser tudo? Não chego lá...

- Nada!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A inegável importância de Sonkaya II



- Quero pedir-te dois favores, pode ser? - Esta segunda pessoa do singular ainda não me é cómoda, mas acho que é um problema civilizacional. Sabe bem, de todo o modo. Tem as mãos firmemente entrelaçadas e apoiadas no balcão, a condizer com a determinação, aliviada?, dos olhos claros.

- Se eu puder, terei todo o gosto... - Respondo diplomático, mas defensivo. Esta é a brilhante maneira encontrada para não termos que nos comprometer nunca. Afinal, é tão subjetivo aquilo que podemos ou não fazer. Quem, para além do próprio, pode ser juiz nesta causa? Anyway, interiormente espero que seja um copo de água e um palito e uma gargalhada. Grande amigo!

- Queria que me reservasses a mesa dos namorados para logo à noite, preciso de ter uma conversa tranquila com o turco . - Ela sorri depois de "turco", eu sinto-me corar até ás orelhas, vermelho como um tomate. - Sim, eu sei! Ou achavas que um miúdo de 11 anos não se descosia?

- Ok, reservada. Que mais? - Não estou a ficar menos corado, caraças!

- Pois... - Hesita. - Não sei, podias perceber se isto faz muita confusão ao puto. Não vai ser um jantar romântico, é mais uma espécie de downsizing. - Ri.

- Despedimento por incompetência ou inadequação ao posto de trabalho? - Rio eu, a medo. 

- Competência qb e bastante adequado. Digamos que o posto de trabalho é que não se adapta. Mas entretanto era um homem e ele um miúdo. Entenderam-se, creio. Agora custa-me... - Revira os olhos, as mãos permanecem firmes.

Percorro a Tasca com o olhar, à procura da mesa do dominó. Bingo! Lá está a pequena cabeça, toda desgrenhada das festas das mãos enrugadas dos seus muitos avós. Sai um jarro de carrascão para lá.

- Hey miúdo, que tal? - Ainda de jarro na mão.

- Tudo bem, Silva. - Sorri-me.

- Ouvi dizer que hoje há cá um jantar especial. - Eis a proverbial subtileza do Silva, sempre próxima da de um elefante zonzo numa loja de porcelanas.

- É. - Os olhos traem-lhe o sorriso que mantém. Há uma sombra... - Não fico lá muito contente, mas paciência. Sabes, o Sonkaya até é fixe. Joga comigo e ás vezes vai ver os treinos. Um dia tens que ir ver os meus treinos Silva... - A mente a fugir-lhe para coisas menos sérias e mais alegres.

- Sim, sim, um dia vou. E agora puto? Vais ficar triste? - Era para saber, não era?

- Um bocadinho, mas não tem mal. Volto a adaptar o avô a lateral direito. - Pisca o olho. 

Eu penso: 11? Achava que eram 10. Não serão antes 61? Raio do miúdo. 

Uma voz pelo meio do catarro:

- Oh Silva, vai poisar isso ou tem alguém que morrer de sede aqui?



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Post it


Na grade exterior da Tasca esta manhã, um papelinho amarelo:

" Silva,
Porque é que as equipas que jogam contra o teu FCP, parecem sempre mais fracas do que antes? Um remate?! Um?! É muito preocupante...
Lamp "

De sorriso colado, predisponho-me a passar pela bluegosfera azul enquanto a máquina de café aquece. Aposto comigo mesmo o que vou encontrar nas caixas de comentários: o Casemiro é o pior jogador do known Univers; não! o Herrera é que é!; o Brahimi nunca enganou ninguém, essa nódoa; não temos ideias; mas quem é que, tirando o Real Madrid, o Bayern, o Chelsea e o Liverpool, não tem a bola mais de 60% do tempo contra estes gajos?; são tão, mas tão fraquinhos, que só mesmo por incompetência do Antero é que não damos 23 a 0; o Espanhol precisava era de uma murraça, um pontapé no rabo e um corte de cabelo novo; o Tello é pior que o Licá...

Concordo com a parte do cabelo, mas eu sou careca.

Injusto? Parto à descoberta...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Nomes - E.F.



- Ena velhote, grande confusão de papéis que aqui vai... - Fico com o pano húmido das mesas suspenso no gesto.
- Isto é um achado, Silva. Encontrei no meu alfarrabista. - Remexe o monte de papéis, alguns manuscritos.
- Hum? Um monte de papéis velhos? É que livro, isso não é.
- Isso agora é que ainda não sei. Tenho andado ás voltas com eles e é bem possível que exista aqui uma lógica. 
Rio-me:
- Eu também estou a ler o "Livro do Desassossego"...
- Nada disso! - Insurge-se.- Nada tão complicado e muito mais concreto. Tenho a certeza. Quase a certeza... Para além de que não consigo, pelo menos ainda, encontrar qualquer referência a autores, pseudónimos ou quaisquer outros ónimos.

Pego numa folha ao calhas, aparentemente datilografada. Por um instante não consigo sequer pensar a palavra, até visualizar, num canto ainda não tão obscuro da mente, a arcaica tecnologia. Leio:

"Nomes - E.F.

Por fevereiros são avistados pelo ponto de fuga dos olhos nas bermas. Ou bordejando ribeiros, delineando bosques tímidos no primeiro esboço. Na cama da nossa certeza tranquila rebentam súbitos, invasores de todo o panorama, eles próprios as margens e os contornos. E o resto, as heras, as silvas, mesmo as persistentes azedas, um ou outro ainda tenro pinheiro, esconde-se por trás, ou sob, a explosão inevitável dos paquidermes. Promessas vãs de campos de flores amarelas.

Alinhados marcialmente seguem-nos os percursos com os seus intemporais olhos aguados. Imóveis, atentos. Suspira toda a outra flora encomendada aos braços ágeis dos voluntários calcorreeiros de zonas delimitadas, protegidas. Nas valas das estradas, nas terras de ninguém, nos baldios, reinam um eterno instante. É breve e para sempre o seu tempo - todos os calendários têm algum março.

Avisados geneticamente por gerações de sábia desconfiança e capitulação, não esqueçamos que nas elefantinas memórias guardaram os poisos conquistados e anotaram os terrenos a ganhar na próxima estação, ás costas de uma qualquer beata descuidada. Retornam amarelos depois de não morrerem os elefantes fugazes."

Olho-o no seu entusiasmo missionário:

- Circo?
- Acacia dealbata?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Farturas Aliáticas




- Oh Silva, se a patroa aqui estivesse, já estava a espumar. - Ri-se.

- Porquê avôzinho? Nem está aí a vizinha dos olhos claros nem nada... - E devolvo-lhe o riso.

- Mas só se ouve falar de bola. E não sei o que mais dos vermelhos, mas porque sim dos verdes e mais outro tanto por causa dos azuis...

- Ah pois! É que parece que isto está a aquecer de novo. Já há quem comece a ficar apertado nos sapatos, quase tão apertado como você. - Pisco-lhe o olho, cúmplice.

- Duvido, mas entendo a imagem. Eu disso não sei nada, só mesmo um ditado que me ensinou um tio meu, por parte do meu avô. Já vê que é coisa muito antiga, claro. Dedicava-se ao negócio da venda ambulante de fritos. Lembro-me ainda bem dele. - Fecha as pálpebras, reconstituindo o rosto do familiar. 

Espero pelo dito. Ele espera pelo empurrão. Há finos para tirar. Empurro:

- E então, diga lá o ditado, fiquei curioso. - Ele sorri como um catraio prestes a fazer uma cabriola.

- Quando os catedráticos ficam pragmáticos, monta a barraca das farturas nos Aliáticos.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

A lista de pontos positivos do senhor Monteiro da Silva



- Ora aqui tem uma das listas que mais tempo levei a concluir. - E estende-me o papel.

Lista de Pontos Positivos

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- Sim, está bem, percebo a ideia. Mas pontos positivos de quê, senhor Monteiro da Silva?

- De todas as coisas que não têm um lado bom, Silva. 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Medo do escuro ou as palavras desconhecidas.




Ficamo-nos pelas luzes de emergência, todas apontadas à saída, embora saibamos que nos deixaremos estar por aqui até a garrafa acabar. Partilhamos uma tristeza qualquer, por nós e, ainda mais, pelo que estão tristes outros de quem fomos aprendendo a gostar. É um bocado estranho como a tristeza tende a nivelar os escalões da amizade.

Abano a cabeça, enxotando a silvesca mania de desatar a filosofar baratinho nos momentos mais inadequados. Empurro outro shot de vodka pela goela, ele esboça um meio sorriso e, assustadoramente, quebra o nosso silêncio crepuscular:

- Uma das memórias que guardo da minha infância, daquelas recorrentes, é as falhas de abastecimento elétrico. Eram comuns. A luz falhava uma, duas, três vezes e depois...puf!...apagava-se mesmo. Os pais apressavam-se para a gaveta das velas e para o quadro incrustado na parede do corredor. Eu corria para a varanda da sala.

Hoje sei que era estúpido, mas na altura não tinha alternativa, era um impulso irresistível de correr para a varanda. Depois dos ameaços, o meu coração estava aos pulos. Quer dizer, eu sabia que ia acontecer, que era inevitável, mesmo que já me tivessem contado de ocasiões em que só ameaçava e depois, por qualquer milagre, não se apagava. Ainda assim, em todas as falhas momentâneas, ficava agarrado à esperança de que era desta que a luz se aguentava, mesmo que estivesse cada vez mais ténue. E mesmo depois de ficar tudo escuro, essa esperança empurrava-me para a rua.

- Porque estava mais claro lá fora, se calhar.

- Estaria, se fosse dia de Lua. Mas nem era por isso. Era a esperança de encontrar uma luz acesa. Um sinal qualquer, no meio da cidade negra, que me alimentasse aquela crença. Já não a de não falhar a luz, que já se fora, mas agora uma outra que a substituía: a de que o corte fosse de curta duração e tudo voltasse ao que era rapidamente. Como se fosse possível, Silva. Como se entretanto não tivesse já ficado escuro, como se a luz que voltasse pudesse ser a mesma que se apagara. No fundo, corria para a varanda à procura apenas da negação do facto, nada mais. Até a minha mãe aparecer e me puxar para dentro, de volta à casa que agora tremeluzia com a claridade fosca das velas.

E ali ficava, colado à janela, à espera que toda aquela escuridão principiasse a acender-se. Mergulhado no meu silêncio. No pior dos silêncios, que é o de não ter nada que valha a pena dizer.

Apertei-lhe o ombro, menos para confortá-lo e mais para que me devolvesse o conforto. Partilhamos esta garrafa e este aperto e não temos mais nada para dizer hoje. 

- Não inventaram as palavras que possam impedir o escuro... 

- Ou nós os dois não as sabemos, meu querido tasqueiro.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Tenham lá Paciência ou o destino do Bolo Rei






- Ninguém o come! Fica para ali na mesa uma série de dias. Cheio dos seus tons garridos, mas intacto. 

- Sim, mas não é a mesma coisa se não houver. Parece que nem é Natal..

- Mas acaba por ir para o lixo!! É bonito, mas não serve para nada. Um desperdício autêntico.

- Mesmo assim Silva, acho que fica bem e não custa nada. 

- Eu não consigo simpatizar com isso, desculpe lá. Quando havia brinde e fava, ainda os miúdos afiambravam aquilo, frutas cristalizadas incluídas e um dente ou outro de vez em quando. For the sake of the game...

- Olhe, é como o seu amigo espanhol. Custava-lhe alguma coisa ter levado o Paciência para o banco? Não ia jogar, mas ficava ali tão bem, a aquecer os místicos corações da populaça.

- E a ganhar mofo até se estragar... 

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

24-10 = 14!



- Estranhamente, ou nem tanto, é em ti que me revejo mais. Em alguns gestos, mas sobretudo na determinação com que impões a ordem e o limite. No esforço para dar só se for merecido, umas vezes. E outras, a dar porque sim, porque aquece o coração, mesmo a saber que mais tarde vais pagar caro teres-te desviado do caminho austero da disciplina. Nesse ar de quem sabe tudo sobre o assunto, que não deixa dúvidas nem possibilidades de questionar.

Expludo de orgulho cada vez que te vejo lutar até conseguires. É um traço de ti, eu sei, mas que queres? Não posso evitar esta sensação de que algo nisso é meu, fui também eu, por ou sem querer. Ás vezes nós, velhos, falamos uns com os outros, de vocês, novos. Claro que falamos mal! Menos quando alguém, e há sempre alguém que o faz, lembra o pouco que valorizam o tanto que têm. Não! A mais velha sabe. A mais velha ganha as coisas que tem. A mais velha está fora da vossa esfera de ingratidão.

Sabes o que mais gosto? A maneira como a populaça tem por garantido que és tão doce e dedicada e certa e segura. Depois perdem-te, porque és segura enquanto te seguram; e certa enquanto achas que esse é o teu caminho; e dedicada a quem se dedica. Doce? Tão doce. Mas nem sempre doce. Ah e Nós sabemos! Só Nós, eles não. Não podes imaginar como me conforta ser uma parte deste Nós. Partilhar as coisas que não mostras lá fora, estar cá quando deixas cair todas as barreiras e todas as máscaras. Porque todos temos e cuidamos das nossas máscaras. No fundo, o que te estou a dizer, só hoje, é que não seria este que sou se não olhasses para mim como um pedaço de Nós. E sou-te grato.

Mais que tudo, é absolutamente necessário que não esqueças nunca a mulher maravilhosa que parece que já és. Acredito que és, pelo que me dizem, pelo que te ouço dizer, pelas coisas e pela vida. Acredito. A certeza nunca terei, porque serás sempre pequenina, nunca adulta e nunca mulher. Tem dias em que quase me apetece pedir-te desculpa por isso, mas não posso. Primeiro porque não tenho culpa e depois, ainda mais, porque quero que continues a encontrar aqui o lugar em que podes ser tão pequenina quanto te apetecer. Em mim, em Nós, em Casa. Mas sempre a saberes que te quero de asas bem abertas, pronta para engolir o Mundo! Ou um empadão de batata doce...

Nem uma palavra! Põe-te a mexer rapidamente que a minha vida não é isto. Xiu! Eu disse: nem uma palavra! E sim, podes tirar uma bifana da panela. Há pão no cesto...

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Para que a memória perdure...



Ter consciência da nossa capacidade para odiar é o primeiro passo para que não se repita. Independentemente da cor, do credo, do género, nós, Homens, fomos, somos e seremos capazes de Auschwitz-Birkenau. 

E do seu exato contrário também! Die liebe macht frei.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Calimeros tontos Grecos maioritas confusionis pataniskas. MIAUFAS!

Foto: Lefteris Pitarakis/EPA

Ora aqui estão dois tipos bestialmente satisfeitos. Assim à primeira podiam ser o JAsus e o Orelhas, o Bruninho e o Marco depois de uma noite no amor, ou quaisquer dois clientes à volta de um café depois de jantarem na Tasca. Não são. O da direita é o que eu venho chamando de Tspiras, quando afinal o nome do homem parece que é Tsipras. Não sei, para um Grego pode ser a mesma coisa que esquecer o V em Carvalho ou assim. Por isso, antes de mais, desculpa lá Alexis, não foi de propósito.

Mas a verdadeira, a grande, e pelos vistos gorda, novidade é o amigo da esquerda. Chama-se Panos Kammenos e é o líder do partido Gregos Independentes. Já tinha avisado que os Gregos dão nomes engraçados aos partidos. É um partido pequenino e modesto, fundado em 2012 e que se coloca à direita do partido de direita que estava no poder. ora, à direita da direita situa-se a... pois, extrema direita. Ali como quem vai para a Aurora Dourada, mas pára no café do Martins. Um Le Penzinho mais novito e rechonchudo se calhar. Miaufa ou exagero do Silva? Veremos. Para já acho piada à inversão das posições para a foto. Mas reparem, só para quem olha...

Por agora, apetece-me apenas perceber porque se unem as extremas. E porque será? Um motivo único: Troika go home! Ou seja, o Syriza, conforme se sabia, teria que se vender a alguma coisa. Vendeu-se à direita, porque assim consegue, por mais alguns momentos, manter a face. Quer dizer, mais ou menos. Como pode a Luz da Esquerda, o Messias da Solidariedade, o Cravo Grego, a Aurora...ops, isso não... enfim, a Esperança de todos, justificar uma coligação destas? Pois pela pátria! Oh Vanessa Fernandes, tu não me vás à Grécia que te comem rapariga. Ou então vai, como preferires...

Para que conste, AQUI ESTÃO OS SINAIS, sob a forma das grandes causas abraçadas pelo partido, hoje no GOVERNO da Grécia (ou amanhã, pronto):

1. O Gregos Independentes é contra a austeridade e contra a permanência da Troika.

2. O Gregos Independentes tem uma posição "firme" quanto à imigração, consubstanciada em declarações do seu líder à televisão grega, em dezembro, acusando os... (respirar muuuuuuuuuito fundo)... judeus que vivem na Grécia de não pagarem impostos.

Apetece-me tanto discorrer sobre a História. Mas não o vou fazer. Vou só lamentar muito profundamente duas coisinhas:

a) Que a esquerda portuguesa, nomeadamente a intelectualoide, vá (cá estarei para me desdizer se não acontecer) ignorar por completo a situação. Afinal, o importante é reservar o Marquês e festejar o titulo do Tsipras. É o que sabemos fazer...

b) Que o Syriza não tenha obtido a maioria absoluta que lhe permitiria vender-se de outra maneira, sem abrir espaço para a direita nacionalista populista chegar ao poder. 

Creiam, tudo o que mete Nacionalista no nome ou no programa, não pode Governar! Nem que seja pela falta de vergonha que revela. Já agora... o terceiro partido mais votado nas eleições gregas foi o AURORA DOURADA. P*** que pariu, não aprendemos nadinha...

- Oh Silva, sirva lá outro copinho. Sabe que ninguém lhe está a ligar nenhuma, não sabe? Mas pode continuar a arengar para aí, está em sua casa homem. Tetas!   

sábado, 24 de janeiro de 2015

Calimeros tolos Grecos miaufas sinaletica.


Amanhã os gregos vão a votos. Já é claro que o vencedor será o Syriza. Pudera, aprendeu a lição e, desta vez, o Tspiras não se deixou fotografar com o Louçã. 

Claro que vai pela nossa esquerda intelectualoide uma grande algazarra. Até ver, vão fazendo o que fazem muito bem: de conta! Mais ou menos como fizeram com a Islândia, quando fizeram de conta que não tinha sido um partido de centro-direita a ganhar as eleições. Ou em França, quando assobiaram para o lado enquanto o pequenito que ia pôr a Merkel no sitio aprovou o orçamento mais apertado da história da França. Por agora, na Grécia, vão fazendo de conta que não vêem os sinais. O problema é que esta gente grita muito, e muito alto, e depois arriscamos-nos a não ouvir o sussurro de fundo. Ás tantas é tarde... Mas eu sou parvo...

Mas de que raio de sinais se trata? Era melhor despachar já isto para poder ir tratar da comida, ou ver a bola, ou dedicar-me a outra atividade qualquer igualmente importante e que não mace as pessoas. Ainda por cima tenho esta tendência irritante para a repetição, para ser maçador mesmo, nas piores alturas. Quando está um individuo muito descansado a querer só que o deixem em paz, pumbas, lá vem um Silva da vida moer-lhe a paciência. Dá-se o caso de que HÁ sinais. E mais vale alguém fazer esta figura de parvo, do que parecer que anda tudo a dormir.

1º SINAL (A esquerda chega-se ao meio?)

Se a memória não me falha, o Syriza ganha massa crítica prometendo o FIM da austeridade, a SUSPENSÃO do pagamento da divida e a EXPULSÃO da Troika. Significado: estamos a cagar para isso do Euro e da UE. We're out! Perderam as eleições, como sabiam que perderiam. Hoje...é diferente. 

Mantendo as suas promessas no inicio da campanha, o Syriza que põe os Bloquinhos, os Livres, os Tempos de Avançar todos a gemerem como uma moça nas mãos do Silva, já vai menos longe. Para além de demonstrar melhor gosto na escolha de parceiros de fotos, há que admitir que trocar o Louçã pelo espanhol do Podemos é um avanço, Tspiras está a dois dias de ser Primeiro-Ministro de um país da União. E já o ouvimos dizer que SAIR do Euro nem pensar; já se fala em REESTRUTURAÇÃO da divida; e não parece que haja qualquer intenção de ABANDONAR a UE. Continua la o fim da austeridade, sem que se explique, POR UMA VEZ, como. Vai dai pode muito bem ser qualquer coisa do tipo: ora bem, vamos aumentar 500 euros os ordenados todos, não? Ok, 50 euros uns quantos. Não? 50 cêntimos as 10 pensões de sobrevivência mais baixas? Ok, feito! Acabou-se a puta da austeridade! In your face Angela! E mais, pagamos menos 5 euros da divida e alguns 15 minutos depois do prazo. Com a extrema-esquerda ninguém brinca! O Hollande deve estar farto de se rir com isto... 

Louve-se, de qualquer maneira, o facto de, POR FIM!, um partido europeu à esquerda dos socialistas querer mesmo governar. E também isto pode ser um sinal. E, quem sabe, um dia teremos uma esquerda que não se limita a dizer o que lhe dá na tola, ou o que queremos todos ouvir, só porque sabe que nunca lhe poderão perguntar: então amiguinhos, cumé? Ao Syriza, os gregos vão poder...

2º SINAL (A direita faz-se ao bife?)

Há 10% de indecisos na Grécia. Podem dar uma maioria absoluta ao Syriza. Podem não dar e baralhar as contas de uma maneira que, a mim, me mete uma miaufa do caraças. Mas não se preocupem, é só a mim. Por extremo cuidado, fico a torcer por uma maioria absoluta...

Neste momento, sendo pacifico que ganha o Tspiras, também é certo que em segundo fica a ND, do atual primeiro-ministro. Ou há um golpe de teatro, tipo "pá, tenho que comer a Vanessa Fernandes para safar a pátria", ou estes NUNCA se coligarão. Retirar Samaras e o ND do poder é uma PROMESSA do Syriza. 

Depois, temos um terceiro lugar disputado por mais um novo partido (que parece em vantagem), o Rio (sim, na Grécia há partidos com nomes giros!), e a Aurora Dourada. Ai ca medo! Para os incautos, para os esquecidos e para os apenas ignorantes, o Aurora Dourada é um partido de extrema-direita, neo-nazi. Aliás, neo não, nazi, ponto! E sim, pode obter entre 5% e 6% dos votos.

O verdadeiro problema, que todos parecem relevar, é que APENAS o Aurora Dourada tem pontos convergentes com o suposto Programa do Syriza. Aaaaaah poijé! Adeus Euro, adeus Europa, adeus divida. E também adeus imigrantes, adeus democracia não tarda mesmo nada.

É estúpido supor um cenário que colocasse o presidiário líder do Aurora Dourada no poder? Vejamos: o Rio é a alternativa mais credível para viabilizar um Governo. Mas o Rio é um partido do centro, que já avisou que nem quer ouvir falar de saídas do Euro nem da União. Moderados. E se a pressão dos eleitores do Syriza se faz sentir, recordando as promessas de Tspiras no auge da orgia anti-tudo? Por outro lado, se esta coisa do fim da austeridade for uma convicção profunda, e for FIM mesmo FIM, não há alternativa a não ser a Grécia seguir o seu caminho sem o resto da Europa. E aí?

Tspiras refere frequentemente o perdão da divida alemã e o Plano Marshall. Na verdade, faria melhor se recordasse Versailles e as insuportáveis condições impostas aos derrotados, que estiveram na base do nascimento do III Reich. Porque esta é a semelhança e mesmo assim longínqua. Podemos apelar à solidariedade e à fraternidade que deviam, de facto, ser transversais à construção europeia. Fazermos de conta que a Grécia, ou Portugal já agora, foram arrasados após uma Guerra Mundial e que são considerados parte tão importante dos valores Ocidentais para que todos façam questão de os reconstruir... Ui, acho que é longe demais. Nem cínico, nem ingénuo... E há uma altura em que a corda se parte...

Oxalá não acabemos todos, a começar no senhor Tspiras, a agradecer à gorda alemã o facto de ter um exército, o que não era suposto. Sim, estou a dramatizar, mas escrevam ai que já decorei o nome do tarado: Nikos Mihaloliakos.

Hoje é sábado, 24 de janeiro de 2015.

- Obrigadinho por me lembrar a quantas ando, oh Silva. Entretanto, traga ai uma tacinha de 3 Marias fresquinho, que eu é que estou mialoliako de tanto o ouvir, chiça...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Um filme e meia dúzia mais um PS


- ... E então, chegaram ao desfiladeiro. Encravados entre as rochas, como numa pedreira, fizeram uma espécie de juramento silencioso, muito ao jeito de we shall leave this day only in victory or death. Muito dramático e épico.

Já se vê que estavam em desvantagem numérica, poucos contra muitos. Para além de que era claro que o poder estava nas mãos, nos bolsos e na boca, do líder dos outros, dos maus. Um careca soberbo, apesar do ar um pedacinho apanascado. Soberbo de soberba mesmo, que gostos não se discutem, mas para mim o careca cósmico era feio até dizer chega. Um estupor autêntico.

Visto de fora parecia evidente que iam ser todos chacinados. Impossível que parassem aquela máquina guerreira. Por cada um que faziam tombar, dois mais lhes eram acrescentados. 

Houve uma altura em que o carecóide esteve a pontos de ir desta para melhor, com ele cairia todo o seu fantabulástico exército. Escapou por uma unha negra. Uma sapatada, um tronco demasiado inclinado para trás, qualquer coisa lhe valeu e o deixou só com um arrepio pela espinha e o gosto do seu próprio sangue na boca...

- Sim, sim. - Interrompeu impaciente. - Mas depois foram traídos e acabaram por morrer todos e o Xerxes foi para o Brasil continuar a fazer novelas. E olhe que não concordo nada que seja feioso, pelo contrário, acho-o um docinho. Então naquela pouca roupa... - Soprou dos olhos uma madeixa vermelha sangue e ajeitou o corpete negro, enquanto esboçava o seu melhor sorriso paternalista. Condescendeu:

- Mas que você é uma surpresa constante, lá isso é. Ainda me vai dizer que é amigo pessoal do Frank Miller. - Riu-se. - Portanto, ontem esteve entretido a ver o 300. Sim senhor, bom gosto!

- O quantos?! Eu não! Eu estive a ver a bola. Braga vs FCP. Mas bem podia ser um filme de gangsters, podia pois... E nunca ias acreditar que sou mesmo amigo do Frank, que sou!


PS. Obrigado Cosme, por teres dado cabo da aliança Paixão/Capela que se preparava para acabar com o Campeonato. A menos que...naaaaa, era um exagero. Certo?...

PS2. Basta acrescentarem "Como sempre disse o Silva", depois de cada elogio ao espanhol. É suficiente, dispenso a vénia.

PS3. Se o blog "Sou Portista com muito orgulho" (aqui), que juro que não li hoje, NÃO escrever que com o Paulo Fonseca podíamos ter ficado com 8 que o Tello e o Campaña tinham marcado e teríamos ganho, é um gandovopodre!

PS4. O próximo que falar em "mística" a pensar que é uma tosta, que seja para sempre confundido com os comentadores da TVI quando estiver a passear no Dolce Vita em dia de jogo.

PS5. Já meteram o Oliver no bujão, antes dele o (I)Brahimi, a seguir aposto que é o Tello. Desisto do Herrera, e demasiado feio para olharem bem para ele, pronto. Estou como o "(Gostava de) Ser Portista...": o Josué sim, mal aproveitado, pobre rapaz; e mandarem o TóZé para o Estoril e depois trazerem um emprestado do Atlético de Madrid, que corja. Morte ao Antero!

PS6. Há um blog portista de que não gosto lá muito, nota-se?

PS7. É um bocado cobarde dizer mal dos outros quando eles não estão, não é? Aqui na Tasca resolve-se isso com facilidade, há uma caixa de comentários e, desde que sem palavrões e insultos gratuitos, publica-se tudo. Mesmo quando dói. Muito. Luvuppkin :)  

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A lista de 10 canções e 1 ironia do Sr. Monteiro da Silva



 10 canções e 1 ironia

Videomaria
Para Sempre
Maçã de Junho
Para Nunca Mais Mentir
Um Mau Rapaz
2º Andar Direito
Firewalking
Sinto
Foram Cardos, Foram Prosas
Perdidamente

- Estamos muito sentimentais e muito Lusitanos, Sr. Monteiro da Silva... Mas qual delas é a ironia? Esta sua mania de a ordem não interessar para nada, não ajuda.

- As ironias são pessoais e intransmissíveis, caro Silva. Cada um escolhe a sua, a que mais lhe convier. É como dar sentidos às coisas que desconhecemos. Deve ser por isso que a Lista é quase toda em Português, não vá eu desentender-me comigo.

- Hein?

- Dessas, a minha ironia não é certamente a sua. Fique à vontade para escolher, amigo... 

domingo, 18 de janeiro de 2015

Trânsito intenso na Galiza, ou lá onde fica a terra onde comem as francesinhas.



- Ena, olha quem é ele. Ora viva Sr. José!

- Viva Silva. Guarde-me aí o sobretudo, faz favor. Isto havia de estar mais festivo! Somos Campeões da Europa, carago!

- Oh Zé, vens um pedaço atrasado não?

- Acidente na VCI, meu caro...

- 11 anos atrasado, Zé! ON-ZE!

- Também estava bera nos Carvalhos...

- Deixa lá rapaz, não te apoquentes, és o treinador do século, parabéns. Aí está uma coisa que não te poderíamos proporcionar. Se ainda aqui estivesses moço, continuarias a ser apenas uma besta arrogante. Mais ou menos como o Vitinho, que mal pôs o pé daqui para fora, passou de coitadinho a iluminado que ensina o Guardiola e toda a gente o quer ouvir. Maravilhas da Capital.

- Obrigado Silva. Achei um bocado estúpido aquilo do Pedroto e do Pintinho, mas enfim, não é nada comigo.

- Nem connosco Zé. Eram prémios de Lisboa, para lisboetas. Ah, e para malta de Setúbal também, parece. 

- Nada disso Silva. Eram da Federação Portuguesa de Futebol!

- É a mesma coisa Zé. Tudo o que queremos é continuar a doer-lhes como lhes doemos. Os prémios, podem pendurá-los no andor.

- Oh well, get me a francesinha, will you my good friend?

- Offshore yes, tankiu vérinaice mister. Quanto a ser teu friend, pues que no lo creo coño...




segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Of course! But maybe...(incluindo o próprio Louis CK) II


Mas é claro que a manifestação em Paris, e todas as suas réplicas, disparam fagulhas de esperança até no mais empedernido dos céticos. É evidente que o grito a uma voz de 4 milhões, diz que foram 4 milhões!, nos arrepia a todos e nos deixa os cabelinhos do pescoço eriçados. Prontos para rebentar o primeiro que atentar contra... Quer dizer, para rebentar não! Lapsus verbalis! É claro, mas...

Mas eu preferia, muito sincera e, who knows?!,mesquinhamente, que o Palestiniano estivesse de braço dado com o Israelita, em vez de em pontas opostas. No entanto, caramba!, marcharam na mesma fila, supostamente pela mesma causa, mesmo que tivessem os dedos dos pés cruzados e figas dentro dos bolsos. O François ex-socialista e a Angela neo-liberal também deram as mãos, mas esses não têm remédio, por muito barulho que fizesse o pequenito Louis de Funés, ou Hollande, ou lá como se chama. E há um negro na linha da frente! Era acrescentar um asiático e era a mensagem perfeita. Se fosse o da Coreia do Norte, aquele dos filmes, então...

Atrás deles, milhões de Charlies! E isso dos Charlies se terem reproduzido e proliferado faz-me uma confusão desgraçada. É claro que somos solidários! Maaaaaaaas, eu sou Silva. Sou Silva desde pequenino e vou morrer Silva, não Charlie. Eu entendo o que se pretende significar, mas estou cheio de urticária por parecer impossivel que entendam que não é uma opção. Há misses Universo que são Charlie e piriquetes que também são. Logo, eu não posso ser. 

O Charlie mandava num jornal satírico, um dia  deram-lhe um tiro e mataram-no, uns assassinos franceses. Depois acabaram mortos, eles também, pela Policia, dentro de uma gráfica. Mais irónico e kármico que isto, não podia ser. Vamos agora todos berrar o quê? Ah venham cá seus infiéis e matem-me, matem-nos a todos, porque todos somos Charlie? Mas são estúpidos ou quê? É que mesmo que afiambrasse, e não dou para esse peditório, na onda do Terror, teria que lembrar os queridos Charlies que é esse mesmo o objetivo dos radicais, aka, terroristas: matar-nos a todos! Não é alguns, é todos. Estão a dizer-lhes o quê? Epaaaaaaa, caros rebentadores, finalmente percebemos, somos todos Charlie! É isso? Já estou a ver a malta de uma Al qualquer a entreolhar-se espantada: Mas quê? Demorou estes séculos todos até entenderem? Infiéis E burros hein?! 

Já para não falar em todos os Charlies que são Charlie porque acham que o Charlie não gramava dos porcos terroristas. E mais os que acham que a diferença entre uma bomba relógio de fabrico caseiro e um islamita, é uma espécie de lençol em que o segundo tende a embrulhar-se. Ah sim, a generalização anda no ar, exatamente no mesmo comprimento de onda em que se agitam os apologéticos. Duas perguntas: São todos os católicos pedófilos? Se em vez de Charlie fosse Pai do Charlie, ainda acharia que a culpa é do muro em Gaza?

Parvoíce à parte, nada do que une a extrema direita à extrema esquerda me cheira muito recomendável. Le Pen grita "Moi aussi, je suis Charlie!". E é, porque pode, é só dizer. Afinal a moça, maisó seu papá, é francesa. "Moi aussi, je suis Charlie!" berram os pseudo-intelectualoides de esquerda. E também está muito bem. A seguir vem a saga do "Mas afinal, quem é que é mesmo, mesmo, mesmo Charlie? Tu não és de certezinha, minha grande besta!".  Sejam todos, que nenhum será.

E para que não reste nenhum mistério, Louis CK:



sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Of course! But maybe... (com vénias a Louis CK) I



Mas é claro que a barbárie nos indigna e nos enoja! É evidente que temos que a combater e condenar e erradicar. Tem que ser cristalino que não nos amedrontamos e que os nossos valores resistem. Não nos vergarão, não nos calarão, não nos derrotarão. É claro, mas...

Mas assusta-me, é provável que parvamente, encontrarmos, e vincarmos aos gritos, traços de Nairobi e de Nova Iorque em Paris. Não é que o número de mortos faça uma contabilidade que me importe. Como se houvesse um contador que determinasse a partir de quantos cadáveres estamos perante o Terror. Nada disso.

Só que se, como sempre, o objetivo da manifestação do Terror é o medo, a propaganda do medo, a sua difusão, devemos ter a ponderação de não sermos os primeiros a cumpri-lo. Acho lindamente que a onda de solidariedade transforme alegres teenagers em Charlies, mesmo duvidando que saibam porque dizem "Moi aussi, je suis Charlie!". Acho bilindamente que os media cumpram a sua função e mostrem, analisem, discutam, investiguem. Até para darem o que fazer a quem vive só de comentar a tragédia, mormente a alheia. Mas...

Mas Paris foi um ataque de um comando. Eram 3 homens, nenhum carro armadilhado. Foram 3 fugitivos, nenhum mártir. Um gritou o nome do Profeta, nenhum se predispôs a cair pela sua convicção. Mataram a sangue frio como vulgares assassinos e fugiram como vulgares criminosos. Eu preciso absolutamente que alguém grite isto: CRIMINOSOS! BANDIDOS! RELES GANGSTERS! Gente que mesmo não procurando dinheiro, procurou APENAS aparecer, ou apaziguar os seus demónios interiores, como em Columbine. Na Tasca não serão nunca "legitimados" como agentes de uma causa. Não passarão de lunáticos perigosos, dos que se podem abater à vista.

Não é que faça uma diferença muito grande, mas há algo que me tranquiliza se imaginar imberbes magrebinos num quartier parisiense, colados à TV a pensarem "ena, assassinos cobardolas!", em vez de "ena, mártires, soldados do Profeta". 

Maomé não entrega armas de guerra para os seus crentes assassinarem jornalistas e caricaturistas. O padrinho da máfia é que faz essas coisas. O líder de um gangue talvez. Jovens jiahdistas wannabe, isto não foi a jihad, foi um crime de sangue. Não se acrescente nunca "apenas" à frase anterior, porque a dor da perda é sempre infinita. Mas não percamos a noção da distância entre duas coisas diferentes. Ensinemo-la!

Paris não foi Madrid, desinfelizmente.

Ou então é só mesmo vontade de ser do contra do tasqueiro. Acontece, frequentemente...

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Herr Heimer, Alz (Revisitado)





"Mas quem raio será este tipo que quase se espuma? Deus me livre se vou pôr à boca esta espécie de bolo, ou de pão, ou o que seja, que me estende. Já disse que não quero e não como. 

Se calhar não disse, mas acho que tenho uma maneira de deixar claro. Ás vezes parecem entender. 

Vou pegar antes na chávena, pode ser que se distraia. Chávena é uma palavra bonita, tenho pena de lhe perder o significado. Soa bem, a quente, como o liquido que me escorre agora pela mão que segura a... coisa. 

Não parece ter ajudado. Agora é que a pessoa está mesmo zangada. Diria mesmo que à beira da apoplexia. Pegar nisto não parece boa ideia. Larguemos portanto. E não, não sei o que faça com esse pedaço de... coisa que insiste em estender-me.

Podia ao menos ser rodeada de pessoas que me conhecessem, que eu reconhecesse. Aquela amiguinha dos meus 10 anos, a minha mãe ou a avó. A avó ás vezes aparece-me. Quase sempre é este sujeito irritado, de olhos fundos. Ou uma cachopa qualquer. Se ao menos me dissessem o que querem de mim, o que esperam. Podiam limitar-se a ser claros, como eu sou: N-Ã-O C-O-M-O I-S-S-O!

Não é teimosia, é só que não sei o que seja e, igualmente, não sei quem seja. É a mais profunda solidão, creia. Era eu que devia estar zangada. Mas não sei bem como se faz isso. Por vezes escorre-me água dos olhos quando me apercebo de quanto fui abandonada. Pouco mais. Poucas vezes, muito poucas já.

Ops, intermitência... Vai falhar a luz de novo... Melhor assim, que não tenho que o ver."

- Mas porque é que não comes o queque? Tu gostas do queque! Comes sempre um queque. Por favor? Come lá isto que me quero ir embora! - Levanta a voz, ao mesmo tempo que a chávena escorre a meia de leite na mão trémula dela.

Na mesa do costume, enquanto ele suspira depois de ter gritado, ela ausenta-se. 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A todos um Bom Natal.




Na Tasca, o Pai Natal veste de azul e branco e a consoada é farta. Farta e bem acompanhada. E como fazemos questão de encarnar o espírito da quadra, a porta fica aberta para todos os que vierem por bem. 

Em termos de acepipes, a mesa fica posta e a ideia é ir comendo. Ou comer tudo de uma vez, como preferirem os comensais.

Tenham pois todos, e todos os outros a quem quiserem estender estes votos, um Bom Natal!

Consoada da Tasca (Menu Completo)

Pão de mistura e de água
Patês
Morcela em massa folhada
Camarões cozidos
Rissóis de carne, de camarão e mistos
Sonhos de bacalhau com maionnaise de pimentos
Queijo amanteigado

Bacalhau com todos
Bacalhau à Tasca (Ensaio I)
Pirâmide de bacalhau
Cabrito assado com arroz do seu intimo

Rabanadas
Filhozes
Pão-de-Ló de Ovar
Pastéis de Belém
Gabizinhos (exclusivo da Tasca)
Tarte de Maracujá

Refrigerantes
Vinho (exclusivamente tinto)
Sangria de frutos vermelhos com framboesas da Avó

E amanhã temos um Capão com batatinhas assadas, mais os restos todos.

Até daqui a uns quilos!

- Já posso por a tocar, Sô Silva? Já posso?
- Anda lá com isso miúdo!