- Para ser muito honesto, tinha acabado de me bater, sozinho, com uma dose para três do cozido que a sogra vem cá fazer em alguns Domingos. - Digo-lhe, entre dois golos de tinto.
- Bem bom! Já vim provar, tanta era a fama. - Enche o copo, com o à vontade dos habituais.
- Ainda por cima havia aí ainda umas garrafas daquele verde secreto de Amarante, a estalar de gelado. - Ele sorri e abana a cabeça, conhecedor. - Portanto, era eu uma espécie de ogre, de estômago hiperdilatado e a cabeça naturalmente gaseificada do vinho. Ou seja, feliz e contente. - Brindamos e esvaziamos os copos. Enchemos de novo. - E foi então que lhe disse, "eu seja ceguinho se não vou a Fátima acender um joelho de cera, se essa sua operação correr bem!".
- Mas a que propósito pá? Não tens nada para dizer, contas uma piada estúpida. Ca burro!
- A mulher estava preocupada e cheia de receios parvos. À rasca, pronto. E eu quis, sei lá, solidarizar-me, mostrar-me disponível. Querias o quê? Que me oferecesse para a operar eu próprio?!
- Para além de que um joelho não se acende, está claro. Deve deitar-se para dentro da fogueira ou assim. Cristo! Um tipo que achava que o sitio das velas na Capela da Senhora do Desterro era um assador... - Rimos os dois. Lá fora o Domingo desfia-se, pachorrento e inelutável. - E afinal vais lá assar o joelho da mulher ou não?
- Claro que vou. Um dia destes...
- Para quê? Não tens fé nenhuma nessas coisas. Ou é só em atenção à indústria das velas?
- Pá, mal não vai fazer. A velhota agora anda ligeirinha, o cozido nunca mais soube a preocupação nem a dores e incómodos. Já que disse, cumpro a minha parte. Vá que estou enganado e foi mesmo a contar com o meu prometido joelho de cera que correu tudo bem? - Acabo a garrafa no meu copo, com o à vontade dos amigos pouco importados com delicadezas. Há mais destas, ele só tem que pedir. Eu cobrarei apenas metade do preço. Ele ficou pensativo, imóvel.
- Abro outra? Por conta da casa. A minha metade, claro! - Gozo.
- Pode ser. - Continua ensimesmado.
- Que foi? Não te fazia tão preocupado com as artroses da minha sogra.
- Não é que podes ter razão? Que mal fará? Nenhum!
- Claro que não. E ainda aproveito e vou ao leitão com a giraça.
- Não é isso. - Bate com a mão na mesa, o copo estremece. - Amanhã vou comprar uma galinha preta! E vou acender uma velinha à Igreja das Antas e telefonar a um amigo meu que é judeu, a ver que esconjuros eles lá têm contra os alemães! - Eu levanto-me, encaminho-me para o balcão. - Onde vais, Silva?
- Buscar dinheiro. Quero entrar em sociedade contigo nessa coisa da galinha...
...
(blink à Gabriela e ao Miguel. Há bola em tudo ou tudo é bola?)
ResponderEliminar@ Silva
tudo é redondo, pelo que o Todo é (um) esférico :)
blink :)
abr@ço forte
Miguel | Tomo III
Ó Silva, que me perdoe o seu freguês Miguel, mas isso de tudo ser redondo são lérias.
ResponderEliminarVocê bem sabe, eu passo aqui frequentemente e bem vejo os petiscos a rirem-se para mim do balcão: os rojõezinhos, as moelas, o chouricinho assado os jaquinzinhos fritos... e eu continuo em frente, dando-lhes o mesmo desprezo que religiosamente devoto aos nobres trolhas que assentam tijolos por essas terras afora. E porquê? Por causa das redondices da vida. Sim, não anda uma pessoa a contar rigorosamente as calorias do que mete à boca, 24 horas por dia; a suar as estopinhas com contorcionismos, acrobacias e outros exercícios que desafiam a força e a capacidade muscular de qualquer um; a ir e vir, de e para lado nenhum, só porque esta coisa do vai-e-vem tonifica e dá saúde: a afogar o estômago com 1,5l de água todos os dias, para agora nos dizerem que tudo é redondo!!!!
A parte do Todo ser esférico ainda vá, que eu não sou como S. Tomé. Mas tudo ser redondo?!... Não senhor! Eu cá fujo dessa forma como o Diabo da Cruz!
Não vai mais vinho para aquela mesa!!!!
Blink para vexas também! ;)
Cara freguesa, acredite que a opinião por cá é generalizada (sendo que não há cá mais ninguém para além de mim próprio, ENTENDIDO? :)): há esforços que valem bem a pena. Olaré se há!
EliminarDe qualquer maneira, agora lembrei-me que há muito tempo que não se publica um petisco por cá. Tenho que tratar disso, logo que os esféricos assuntos o permitam. Dê-me licença, que tenho que ir ali fritar uns ovos e umas fatias de bacon...
Eliminarmas eu só bebo coca-cola!... :D
ps:
tudo é redondo no sentido em que não pode ser obtusamente oval. vide teoria/filosofia yin-yang
(atenção que ainda é de manhã e eu ainda não bebi... coca-cola)
cumprimentos
miguel | Tomo III