domingo, 12 de abril de 2015

Levanta-te e anda!



Vai aqui o fim do Mundo em cuecas na terra. Embora a Tasca tenha uma localização bastante volátil, tão depressa vizinha do Big Ben como atamancada nas catacumbas dos Clérigos ou nos túneis do metro de Lisboa, naturalmente tem o seu sitio de raiz, a sua Alma Mater. Dá-se o advento de nesse preciso local, ser tempo de festa.

Até aí maravilha, que é bom para o negócio. Mas é igualmente tempo de receber os Peregrinos, porque há por cá a tradição de rumarem a uma capela plantada em pleno coração da freguesia. E isto é que me bule com os nervos. 

Pá, Peregrinos é malta que anda um ror de quilómetros, durante dias e dias, semanas, debaixo do tempo que apetecer ao Senhor que faça, ou ao Anthimio Azevedo, paz à sua alma. Depois acabam por chegar ao local para onde peregrinaram - quem disse que peregrinar não é verbo? - bastante moídos e orgulhosos por terem conseguido. Agora, vir ali de Valdágua não é peregrinar! Isto devia ser como os Jogos Olímpicos, para se ser Peregrino tem que se atingir mínimos. 

Vamos lá ver, sair de Oliveira de Azeméis ás quatro da matina e andar 18 quilómetros não pode ser considerado ir em peregrinação. O facto é que por volta das oito já estão abancados na confeitaria, a mandar abaixo meias de leite e croissants com queijo. Eu sei, que estava lá a ler o jornal! 

Mesmo arrancando de Arouca, são umas oito ou nove horas. Com umas sandes de vitela assada - nham! - é mais um passeio grandalhão que um sacrifício, sobretudo com o bom tempo que nos abençoa este ano o São Lázaro.

Por isso, bem podem passar o dia a tirar fotos, de cajado em punho, em frente de todas as placas que anunciam os limites aqui da terrinha e postá-las em menos de um fósforo nos respetivos facecoisos, que isso não faz de vocês Peregrinos. 

Para além de que tem que haver um motivo para peregrinar. E vir cá ver o conjunto e a Banda Filarmónica, enfardar uma ou outra bifana - menos a malta de Arouca, que já vem aviada - as pipocas e o algodão doce para a canalha, não são bons motivos. Quer dizer, são, mas para uma voltinha domingueira. 

A mim não me convencem com isso da devoção ao São Lázaro. Um tipo tão inconstante, ai agora estou morto, ai agora já não estou, ai afinal acabo mesmo por falecer para me tornar Santo, o interesseirão. Não estou a ver que inspire tanta gente, Deus me perdoe se pela sua cartilha isto for sacrilégio. É assim uma espécie de Herrera da Santidade, tão depressa está a dormir como está acordado. Mas em mais bonito, pronto...

Ainda por cima, tendem a aparecer em magotes, tipo rebanho descontrolado, desafiando à exaustão a perícia dos automobilistas. Logo aí se vê que são indivíduos pouco preparados para a peregrinação. Não nos bastavam já os bicicletistas, não?

Por estes bastos e relevantes motivos, instalei na entrada da Tasca um cartaz de excelentes dimensões e apreciável sentido estético que declara:

"NÃO SERVIMOS PEREGRINOS PROVENIENTES DE LOCALIDADES QUE DISTEM MENOS DE 200KM DA CAPELA!"

- É tudo bastante parvo, Silva. O cartaz é só o cúmulo dessa parvoíce toda. Então agora deu-lhe para afugentar a clientela?

- De todo, caro estúpido de galochas. Há três dias que há filas à porta. Povo que quer ser fotografado de mini em punho ao lado do cartaz, para botarem no Facebook. Isto de provar que andámos mais de 200 quilómetros não é para todos...

(com beijos, abraços e muito respeito e admiração aos fregueses Licas e Zés, Peregrinos a sério!)      

4 comentários:

  1. SRA. DO DESTERRO, pá! S. Lázaro é outra romaria, com foguetório também, mas noutro ponto da freguesia!
    Valha-me Sta. Ignorância!

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  2. Lázaro, Desterro, Ignorância, é tudo santos e hospitais, dá igual :)

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  3. ... e ele levantou-se e andeu.

    - andou, estúpido!

    - pois. andou estúpido por uns dias, mas isso depois passou.

    (anedota que não mais esqueci sobre Lázaro. e contada por um clérigo.)

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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  4. Bahahahaha! Muito bom. Parece o Juses, ai, o Jesses, pá, aquele. Ás vezes engano-me...
    Abraço.

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