terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Os mortos andantes



Por fim, fui convencido a ver o "The Walking Dead". A mais que tudo usou aquela sua maneira única de me levar a fazer o que ela quer. Maijómenos assim:

- 'Moooor... - Em fundo fala o brasileiro no meu espertófone:

- Próximo êxêrrcicio, flexõiss. - A arfar:

- Diz, puf, puf. Filhadaputadepanasca, faz tu as malditas flexões, puf, puf. - Ela, sem tirar ojolhos do PC:

- Toda a gente que conhecemos já viu isto dos mortos caminhantes. Não queres ver comigo? - Brasuca:

- Próximo êxêrrcicio, ágáchamentôiss. - Eu, em posição de quem vai mandar um fax de braços estendidos:

- Não. Se toda a gente vê, eu não quero. Ai os meujoelhos. - Em pé, a ver se não me esbardalho. - Sim, sou assim tão embirrante. E não me ponho mais de cócoras. Dass, capaz de dar um jeito aos costados. - Viro-me para ela. Depois de meio agachamento e duas flexões, sinto-me o six pack do Rocky Balboa, há 20 anos atrás. Está de fones, ojolhos no ecrã, a poupar-me o olhar parecezomêpaicoatuidade, mas em mai'bonito. Diz:

- Anda, anda, vai começar. Tomas duche depois.

- Hein?! Já disse que não quero, porque acho que...

- Shhh, cala-te, já tá a dar.

...

Isto dos mortos que caminham - como o João do scotch, mas sem a bengala - tem um enredo simples:

Uns estão vivos, outros estão mortos mas não há meio de perceberem e querem comer os primeiros. Pelo aspeto e pela filosofia de vida, são assim uma espécie de adolescentes dos 80's a verem o "Marés Vivas". Baba incluída, mamocas balançantes excluídas. O que é pena.

Acho indecente a discriminação aos mortos-mortos. Não contam para nada. Ai estás vivo? Pega lá uma sachola e vai matar mortos. Dass, parece o 5lb a jogar contra o Belém. 

Ah, espera, seu magano, isso não é lama de andares de motoquatro por as matas com ojamigos, mariconço. Tu estás é coberto de vísceras porque faleceste. Et pur si muove! Então vai já atrás da loira menos má, a ver se lhe afinfas uma dentada numa nalga. O amigo aí ao canto, o morto morto, faxabor de ir andando e não atrapalhar quem trabalha. É isto.

Quer dizer, se estiverem mortos mas conseguirem ficar de pé e emitir uns grunhidos, têm trabalho garantido. Vivos que utilizem a ferramenta de trabalho para dar cabo da cabeça aos outros, também. Parece uma repartição de finanças.

Mas agora encontro-me viciado nesta coisa e ainda me faltam umas 50 temporadas. O que me irrita é ninguém explicar como é que o apocalipse se deu. Nem porquê. Terá sido uma experiência militar? Uma bactéria que escapuliu? As tensões do Octávio terão sido um sinal? O Zika?

Enfim, na categoria de "diversão a ver monstrengos a serem espancados", não está mal. Mas o nosso jogo no galinheiro foi bastante melhor.

...

E então, esta manhã, num processo de transferência temporária desta velha carcaça para a Capital, dou com um bicho no casaco. A espreitar da aba, cheio de antenas e assim. Mesmo a pedir um piparote. 

Só que é muito cedo e a parte de mim acordada é, exclusivamente, a parva.

Penso: E se este bicho estranho é o agente do fim do Mundo? E eu o paciente zero. Foda-se, vou esmagá-lo. 

Espera, podia levar o bicharoco para Lisboa. Pimbas, soltar o Inferno no Seixal. Ou em Alcochete. Construía-se um muro alto ali por alturas de Leiria e pronto, ficávamos com os apitos só para nós! A ver se não recuperávamos os pontos todos ao Jergo. E mais bem governado que ficava o país.

Entretanto chegou o comboio e enfiei um piparote ao insecto que o desfiz. Quer dizer, pelo menos ainda não voltei a vê-lo...

...

- Pedro! - Imperativo.

- Sim, Senhor. - Atrapalhado.

- Já soltaste a praga? - Desconfiado.

- Sim, Senhor. Só que... - Atrapalhado.

- Ai! Eu vi logo. Fizeste tudo conforme combinado? O bicho pra cima do anormalóide e tal? - A ira a crescer.

- Sim, Senhor. Mas... - A coçar a cabeça.

- Porra pá, sempre a mesma coisa! Não fazem nada como deve ser. É o que dá esta treta dos empregos vitalícios. Qualquer dia dou-te um piparote que te desfaço.

- Pois, foi mesmo isso Senhor.


...

Soundtrack to living dead: Black sabbath (4 xôr Costa)


11 comentários:

  1. Respostas
    1. Bah, já com o GoT foi a mesma coisa e agora andas a chorar pelos cantos que nunca mais recomeça. Felizmente ignoro com muita força a parvoeira natural e, a troco de umas coçadelas na barba, lá ficas tu viciado. Ainda te vou ver a carpir pelo Beowulf. Vou, vou! <3

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    2. Removi sem querer, à conta dos dedos gordos :) Está reposto xôra Gabriela.

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    3. Paaaaa, cenas que metem Dragões é uma cunbersa toda diferente. Beowulf, só mesmo com a Angelina. Mas no essencial, é isso. Cofias-me a barba e eu vejo qq coisa...até entrar em estado de meditação profunda. :) <3

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    4. Não gosto que me removam comentários!

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  2. Essa coisa dos mortos caminhantes e, senão estou em erro, confiando nos tabus, lendas e dogmas dos adoradores de deuses, demónios, anjos, gárgulas e virgens mães, santos e pecadores, deve-se ao facto do Inferno ter a lotação esgotada. Ou seja já lá não cabe vivalma (literalmente, pois claro). Então o resto da maralha que andou toda uma vida a curtir, a fazer o mal, a pecar, enfim estilo sexo, drogas e rock 'n' roll, como não tem bilhete para o inferno, ficou na terra a penar e a escangalhar a vida dos vivos-vivos, mesmo que estes vivos-vivos, a maioria seja muito pior que os mortos-vivos, já que os mortos-mortos, esses, por exclusão de partes, deverão ser os que tem a alma lá em cima, bem acima das nuvens, onde todos vestem branco, jogam ténis e dedicam-se á floricultura, sobretudo de margaridas.
    Espero ter sido claro, sucinto e ecuménico...

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    1. Espero que o Felisberto esteja coberto de razão! Vou andar por cá a dar cabo da paciência à malta até me darem com uma picareta na mona. Para além de que a coisa mais parecida com um margarida que conheci era a Guida Mamalhuda. Mas acho que estava viva. O cheiro era porque suava bastante. Espero eu... :)
      Abraços Ecuménicos
      PS. Vou acrescentar banda sonora a isto! EM sua homenagem...

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    2. Ora essa. A gerência é que agradece a preferência.

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  3. Eu nunca gostei de filmes de terror fantástico (leia-se absurdo) mas neste momento TWD é uma das séries que mais gosto de ver, ainda que com altos e baixos ao longo das n temporadas. Há uma em especial que me seduziu de princípio ao fim, mas já nem sei qual a sua ordenação temporal. Vale a pena o esforço de começar ...

    Se continuar a visitar os mouros durante a semana avise, quem sabe não nos cruzamos numa tasca alfacinha...

    E para terminar, viva o Senhor!

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    1. A maneira como as narrativas são construídas, muito ao jeito da novela, prende. Quero ver 30 episódios seguidos, mesmo que passe metade deles a barafustar com as incongruências. Depois há aquela coisa moderna, a la GOT, de poder morrer qualquer um...
      Todas as semanas, pelo menos duas vezes por cada uma, lá tenho que ir ver se a moirama está tranquila nas suas jaulas :)

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