terça-feira, 18 de julho de 2017

Sentido de humor e apitos



Sou um cachopo basto rezingão, embora disfarce muito bem. É apanharem-me num daqueles dias de alvorada às quatrimeia da noite e regresso à caserna às vintiduajoras, com mais de seiscentos quilómetros no lombo. Está claro que a minha beleza natural e o bom aspeto geral, ajudam muito a tornar mais agradáveis esses momentos de mau génio. A bem da verdade, diga-se que um espinho aqui e ali até contribui para manter a chama. Um homem não se quer easy to boredom. Se soubesse o que era um tipo charmoso, era capaz de aferir se isto contribuía para o meu charme ou não. Mas não sei, embora não tenha perdido a esperança de descobrir.

Já se sabe, no entanto, que o traço mais marcante é o meu espetacular sentido de humor. Para além da proverbial modéstia, naturalmente. Gosto do meu sentido de humor - da modéstia gosto menos. Havia de ser mais gabarola. - só que prezo ainda mais esta espécie de sinceridade compulsiva - acho que se chama estupidez - que me leva a confessar-vos que, ao nível do dito sense of humour, estou, na melhor das hipóteses, na média. Não serei um Depoitre, mas de André só tenho o apelido.

Basta olhar à volta e perceber que a humanidade é a espécie mais galhofeira de todas. Quais hienas risonhas, quais lémures às cabriolas, quais carago... Errr, quer dizer, em causa própria que seja, a julgar pelo meu, o carago também é basto reinadio. Não é por falta de sentido de humor que o homem se extinguirá, lá isso não. Parece que anda sempre toda a gente a brincar.

...

Olha, por exemplo, esta coisa da Absolvição Final do Apito, ou lá como se chama. No fundo, a mera confirmação do que já estava mais que decidido à uns oitocentojanos. Percebe-se a demora, porque implica devolver dinheiro que se recebeu e, quem sabe, largar mais uns milhões em indemnizações. Pagar e morrer...

O que é soberbo, é a capacidade de toda a gente para desatar a brincar com isto. Começa logo por nós próprios, os Portistas, que entrámos imediatamente na nossa fase preferida: A esquizofrénica:

 - Yeeeeeyyy, inchem suínos! I-li-ba-dos! In your face, sons of a transatlantic ship of syphilitic whores (em estrangeiro, para os canhestros não entenderem. Alguns são grandes e matam pessoas e assim, diz que matam).

Por outro lado:

- Uiuiuiuiuiuiui, tanta água que isto traz no bico, mais parece um candeeiro a fazer um broche a um padre num vão de escada, numa noite de temporal. Por setiquinhentos (eu ainda sou do tempo em que o broche se pagava em escudos, diz que pagava).

Pá, anda tudo a brincar, certo? Caso contrário, preciso de ajuda urgente, porque estou a ficar lerdinho de todo. O que não seria uma grande surpresa. Vamoláver:

Primeiro, eu compreendo as comunicações oficiais de regozijo e as alfinetadas e isso tudo. Acho até muito bem, inchem. Outra vez! Mas sabemos todos que não se trata de uma vitória nova e, sobretudo, não vai fazer diferença nenhuma. Estes apitos estavam mais que acabados, até onde podem estar. Para os cento e cinquenta mil quatrocentos e catorze milhões, não muda nada. Para nós os cinco, também não.

Mas mais importante que isso, não há NENHUM motivo para que esta decisão tenha qualquer relação com o caso dos e-mails lampiões. Autênticos sessenta e nove do correio eletrónico.

O motivo pelo qual as escutas dos Processos dos Apitos não são consideradas como meio de prova, não chega a ser a ilegalidade na sua obtenção. A coisa pára logo no simples facto de escutas não serem meios de prova admissíveis num Processo Disciplinar. Seja no âmbito desportivo ou laboral ou qualquer outro que possam imaginar, incluindo instalar microfones nos vãos de escada da Catedral da Cerveja. APENAS em sede de Processo Penal se podem considerar este tipo de evidências.

Traduzindo isto para a língua da gente, a questão não é se as escutas foram obtidas de forma legal ou não, oh palhaços. Num Processo Disciplinar, não podem haver escutas, ponto final. Tipo, não se pode dizer que há problemas com mosquitos lá em casa, para justificar a intenção de comprar uma caçadeira de canos serrados. Sobretudo se mantém essa intenção de gravar "Adeujohvaitimbora querido vizinho do nono frente". Não vai dar.

Perante isto, o que sobrou dos Apitos foram testemunhas. Todas a dizerem que aquilo era uma treta de dimensões épicas. Menos a Carol. Acontece que a Carol era também conhecida por ser um salgadinho com bastante saída e pouca verdade. Vai daí, a coisa foi à vida.

Não obstante, a justiça desportiva - assim mesmo, em minúsculas - tratou de, em primeira instância e com grande celeridade, andar com as coisas para a frente. O grande, que não em tamanho, Ricardo Costa, arvorou-se em judge, jury and executioner e fez o trabalhinho encomendado. Para nada, afinal. Nem em Portugal - repito, NEM! - uma coisa tão mal atamancada poderia ir longe. Mas fez mossa e é altura de pagarem por isso.

Portanto, aqui na Tasca, continua-se a clamar por igualdade de tratamento. Mera jurisprudência, meus meninos. E estão enganados aqueles que pensam que jurisprudência passa a significar que os e-mails devem ter o mesmo destino das escutas. Nanananana. Jurisprudência é toda uma outra coisa.

Os senhores do Conselho de Disciplina, Meirim à cabeça - diga-se que foi um dos que sempre defendeu a inadmissibilidade das escutas - devem tratar de julgar desde já no âmbito desportivo. Porque as implicações penais deste processo não são para aqui chamadas. Nem sabemos se haverão consequências penais, como esperar por elas? Portanto, isso de "ai, agora vão dizer que nem vale a pena olhar para os e-mails por causa das escutas", não cola. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Tampouco é relevante a proveniência dos ditos e-mails. Também isso é uma questão que deverá, ou não, ser esclarecida no âmbito de um eventual Processo Penal. Para o que aqui importa, agora, o que deve ser analisado é o conteúdo e o que ele denuncia. Jurisprudência, caros senhores.

O que é necessário averiguar, é se, ao contrário das escutas, os e-mails serão admissíveis enquanto meio de prova num Processo Disciplinar. Desportivo.

Eu não sou acusa-Cristos, mas não estou a ver porque não seriam. Ora, se são aceitáveis para despedir chefes de família no quadro laboral, porque não seria assim quando se trata de mandar os lampiões batoteiros para os distritais? Pois, jurisprudência, né?

...

Por uma vez, os encarnados demonstraram algum fair-play e reagiram ao enterro do apito com algum bom humor. Dizem os moços que ponderam recorrer. Para o TAD. LOL, brincalhões.

Sim, é uma piada, de certeza. Basta ver a argumentação, percebe-se logo que não é para levar a sério. Se os catraios dizem que há ali uma incompatibilidade por causa do Fernando Gomes - à época dirigente do FCP, hoje Presidente da FPF e maluquinho por SMS - não poderiam defender o recurso ao TAD, naturalmente. Porquê?

Opá, porque o nosso amigo Ricardo arranjou um tacho no TAD, capisce? Sim, esse mesmo. Reinadios os moços, hã? Caralhitos, credo.

... 

Soundtrack to case law: You won't fuck around no more...

13 comentários:

  1. Quem fala assim não é gago! Silva a presidente (da confederação das tascas, obviamente)!

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  2. Dois pontos. Ponto 1 -uma autêntica lição, digna de um "mestre".Adjectivos para uma qualificação? Esgotados !! Ponto 2- se quiseres saber o que é "charme", por favor, fala comigo ...eh eh ! Quanto ao sentido de humor, que modéstia meu caro, nem Depoitre nem André, eu coloco-te, sem favor, ao nível de um "Leonel", certo?

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    1. É da minha extensa formação à distância nos vários galhos do direito, incluindo o canónico :)
      Qual Leonel? O do Duo Licinio e Leonel? Wow, quanta honra! :)
      Obrigado pela visita...papá.

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    2. You´re wellcome!! Hugs and kisses !!!

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  3. o anónimo já o disse: quantos adjectivos (mas muito bem empregues)! e, depois, "aferir", "clamar", juriscoiso... Silva, andas a imitar o Geraldes e a ler a 'nova gente' nas horas vagas! confessa lá, filho de um cabr... confessa! andas a dar uma de intelectual; estás aqui, estás a criar uma conta no twitter (o Vassalo explica esta). :)

    abr@ço forte (que a água ainda dá para mais um mergulho)
    Miguel Lima | 92° minuto

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    1. Pois, quase que pareço uma pessoa normal.
      De resto, pá, o Twitter é que tem que criar uma conta na Tasca!
      Aqui está à beira da chuva, deixa-te estar a banhos.
      Abraço.

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  4. Vamos acreditar que haverá coragem para fazer cumprir a lei...
    Se por um lado continuamos a assistir a demasiadas situações que ficam impunes, por outro, vamos vendo gente noutros tempos intocável a contas com a justiça!

    Os factos que mais valorizo são o mérito ou a falta dele nas conquistas dos clubes.
    E quanto a isso...
    Nunca tantos foram inquiridos para que se desse mérito ao campeão. E todos sabemos porquê!
    E todos assistimos à necessidade da máquina de propaganda do regime em valorizar qualquer merda feita por eles e em desvalorizar o nosso Porto. E todos sabemos porquê!
    Esses são os maiores factos, que infelizmente não contam, porque são subjetivos, tal como a situação de braços Mitro/Filipe, é vermelho? Casual! É azul? Então é falta.

    Esperemos que os emails e afins contem!
    Têm de contar! É impossível que não contem!
    Pode parecer, mas não estamos na terra do Kim!

    Abraço

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    1. Pois não, nós não temos capacidade nuclear :))
      Abraço

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    2. Antes assim! Ainda nos gamavam as ogivas!

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    3. Tranquilo, era tudo ogivas com defeito, para abate. O senhor Comandante seja muito bem-vindo de volta ao seu posto. Não passou se nada :)))

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    4. @ Silva

      não passou se Nhaga. aprende, car@go!

      ps: para quando esse tweet?

      Miguel Lima | 92° minuto

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