segunda-feira, 20 de abril de 2015

A beleza do estereótipo: Contributo para uma noite descansada.




Não consigo perceber tanto alarido e tanto receio. Isto não é assim tão complicado. Tudo o que os nossos têm que fazer é encarnar o verdadeiro espírito Lusitano. E pronto, that's all folks!

Começa logo na baliza. Temos lá um latagão que estava bem era a descarregar contentores em Leixões. É mesmo isso que o moço tem que enfiar naquela cabeça dura. És um estivador português, Fabiano. Portanto, na tua hora de serviço, o que tens que fazer é contar, detalhadamente, ao Roberto as longas noites que passaste com a mulher dele enquanto o jovem andava embarcadiço. Se te aparecer trabalho, atiras-te ao chão à primeira oportunidade e ficas por lá até te levarem à enfermaria. E berras que queres ir pó seguro e que já não podes mais e que tens para seis mesinhos, mínimo! Vais ver os Diretores bifes todos a ferver, não fazem mais nadinha de jeito o dia todo.

No centro da defesa façam o favor de botar os M&M. Digam lá que os tipos não parecem dois armários. Eles que se compenetrem da sua verdadeira função: São porteiros de uma disconight portuguesa, pois claro. Vai daí, passarão a noite a explicar aos gringos que não será possível entrarem. Parece que os estou a ver:

- Pois, não, não. Tem que fazer o favor de ir para o fim desta fila de dez quilómetros, que isto está bastante cheio. - Diz o M, de óculos bem escuros, a comporem o ar bald and badass, sem sequer olhar na direção do suposto cliente.
- Mas estarr vazio lá dentrro. Verr-se daqui quando porrta abrrir parra entrrar gaja bem boa!
- Isso é o que tu dizes. Para a fila e a trote, antes que isto comece a descambar, tajaperceberohporconazi? - Conclui o outro M, mais sóbrio, mas não menos badass.

As faixas estão um mimo. À direita um cigano. Maravilha! Noventa minutos inteirinhos para moer a cabeça do alemão que lhe calhar. É ver o  boche cheio de sacos de roupa de marca e relógios e assim. Mal consegue andar por causa do peso, o pobre. Atrás do nosso cigano, jogará, a defesa direito portanto, um tipo da Damaia. Não há melhor combinação que esta. Enquanto os alemães estão entretidos a escolher polos Ralph Lauren made in Rebordelo, passa o Damaiense a correr e aos gritos de "Olha a bófia, olha a bófia". Pumbas, o cigano dispara atrás do gajo, até o ultrapassar. Melhor overlap é difícil. Vai ser um massacre por aquele lado.

À esquerda, quem temos? Um Marroquino!!
- Não Silva. É Argelino!
Argelino, Marroquino, Catarino, é tudo a mesma coisa. É malta que vende casacos de pele. Só temos que usar a mesma estratégia da direita. Não apenas ganhamos o jogo, como os rapazes ainda fazem uns trocos valentes. Sobretudo porque a defesa esquerdo jogará um tipo do Barreiro. Emigrado onde? Na Holanda! Já se vê a qualidade de contrabando deste, pois claro. Aposto que anda feito com o Catarino e passa a erva dentro dos forros dos casacos. Vai ser uma festa à esquerda. Isto é que é o Avante!, Jerónimo.

No meio campo é limpinho. Os alemães todos eficientes, cheios de pressa, os processos todos apreendidos e oleados. Coitados! Metemos lá o feioso, mais o Tsubasa, desencarnados em dois funcionários públicos tugas. Inundamos aquilo tudo de burocracia, até os gajos desistirem. 

- Como diz, senhor Göetze? Não, claro que não pode fazer esse passe de rutura. Então o senhor ainda não preencheu o modelo trinta e quatro, nem me trouxe o numero de beneficiário do seu vizinho do quinto esquerdo. Diga? Mas que culpa tenho eu que não lhe dê agora jeito nenhum ir a casa buscar os papéis? Havia de ter pensado nisso antes, não acha? Olhe lá, o senhor tem a certeza que não é anão? Uma vez conheci um anão, numa feira em Alhos Vedros. Era uma personagem bastante original. Onde vai senhor Göetze? Espere lá que ainda não pagou a taxinha. Primeiro paga e depois é que é substituído. Esta agora...

- Boa noite, senhor Shweinencoiso. Já viu este tempinho de caca? A humidade dá-me cabo dos ossos, até parece que ando marreco, valha-me Deus. Mete-se-me a chuva miudinha pela roupa. Horrivel. Escute, o senhor deixe-se estar aqui um pedacinho que está na hora do meu lanche. Se não se importa, tem que esperar. Oh amigo, se tem pressa viesse mais cedo. Você lá no seu serviço também tem pausas, não tem? Não me lembra de me vir perguntar se eu tinha pressa nessas alturas. Há com cada um, sinceramente...

Ainda nos sobra o Casemiro! Ora, toda a gente sabe que o Casemiro é tudo menos burro. Para além de ter um nariz que parece um elefante, manda um corpanzil de meter respeito. Não vai haver menino a pôr pé em ramo verde na zona dele, ai não vai não. Muito menos brasucas com nomes de estação de comboios da Linha de Cascais, ai que fino. É rebentar-lhe os dentes todos se se armar em parvo. E sem remorso, que o gajo há-de ser dentista e trata-se a si próprio a seguir. À borla, o chulo! Recibozinho com contribuinte tá quieto...

Sim, eu sei que falta a estrela. Preciso de explicar como é que um tipo chamado Jackson vai tratar da saúde a um menino loirinho e angelical? Pois...

4 comentários:


  1. esta prosa é a verdadeira anestesia para a minha ansiedade.
    é certo que vou dormir mais sossegado.

    portanto, 'muito obrigado!', Silva! e também pelo teu bom humor :)

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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  2. Não há Xanax como a verdade! :) Cincazero Miguel. Outra vez!
    Abraço.

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  3. Ou como umas linhas de Lexotan, com uns parágrafos de Prozac, podem devolver a serenidade a um Dragão em pulgas.
    Genial

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    1. Lá dizia o Mestre: calma e estupidez natural! Para já, somos nós que vamos à frente. Eles que se preocupem ;)
      Obrigado e bem-vindo, Joaquim.

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